quarta-feira, 5 de maio de 2010

O OLHEIRO

O OLHEIRO
Não me realizei financeiramente. Não sou um vencedor no mundo capitalista. Tenho consciência de minha capacidade profissional e da forma perfeccionista que exercço minha atividade . Quando comecei a trabalhar, inspirava-me em Francisco Julião, advogado nordestino e que ajudou a formar as “Ligas Camponesas.” Queria mudar o mundo. Dr. Orlando Cunha, no Escritório onde comecei como estagiário, disse: “É isso que você quer, trabalhar para pobre. Quem trabalha para pobre fica pobre”. Foi o caminho que trilhei. Fiquei pobre, mas tranqüilo comigo mesmo. Embora pouco valor tenha para o mundo exterior. Por coerência, comecei a minha vida profissional trabalhando para vários sindicatos de trabalhadores. Época da ditadura militar, em que os dirigentes sindicais atendiam em suas próprias casas. Eram pobres e morriam pobres. Hoje, o dirigente sindical é o verdadeiro “pelego”. Eterniza-se no cargo, tem assessor de imprensa, recebe vários salários, abocanha diárias, possuem carros e combustível pagos pelo sindicalizado e não existe fiscalização dos gastos, nem das eleições. A imprensa cala. A assembléias são fictícias que aprovam tudo. Alguns são fazendeiros e mandam seus filhos para a Europa. Nas festas de Primeiro de Maio, um verdadeiro festival de distribuição de carros, prêmios caríssimos e exibição de artistas que atraem multidões. O sonho dessa gente agora é o Parlamento, quando não o Executivo, de preferência, a Presidência da República . Tudo despolitizado. Andam de mãos dadas com os patrões. Acreditei que trabalhando para Sindicato estaria cumprindo o meu papel no mundo e defendendo “os fracos e oprimidos”. Somente no Sindicato dos Ferroviários fiquei durante dezessete anos com registro em carteia e tudo. Um dia pedi demissão. O presidente que me contratou é o mesmo até hoje. Já tenho idade para me aposentar. Chegou ocupar cargo no governo estadual, Secretário da Confederação de Trabalhadores, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Zona Mogiana e pensionista da Fepasa. Vários salários e cargos ao mesmo tempo. Sem fiscalização alguma. Até hoje é presidente do Sindicato e faz o que bem entende e se reelege tranquilamente porque não tem adversários. Ajudou acabar com a própria FEPASA, porque jamais lutou ou denunciou ou combateu as administrações corruptas e ineficientes. Buscou-se bobagens, como passes livres, e outros pequenos privilégios, sem buscar o principal: dignidade profissional para os ferroviários, que faziam da ferrovia a extensão de suas casas. Com o Governo Lula essa gente abocanhou os “fundos de pensão” e outras boquinhas que tornam cada vez mais indigente o nosso País. Descobri tarde demais que não poderia sozinho transformar o mundo. Continuo com os mesmos ideais, porque acredito estar fazendo a minha parte no mundo, ainda que insignificante. A História fará as transformações. Ocupei cargos, alguns considerados importantes, mas não me vendi. Acredito que a vida é curta demais para entregarmos “a alma ao diabo”. Mas voltando ao olheiro. Toda profissão tem o seu aspecto sublime, mas o olheiro é o que há de pior. É hipócrita, sabujo, perigoso e quando perde o emprego há um alívio geral. Não é o ofício que dignifica o homem, mas o ofício de olheiro é difícil de ser gnificado.
Rib.Preto, 06 de maio de 2.010 (antoniocalixto@aasp.org.br)

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