quinta-feira, 6 de maio de 2010

O CORCOVADO

O CORCOVADO

Tenho um pequeno Sítio no município de Altinópolis, no local conhecido como “Corcovado”. Construi a princípio, uma casinha pequenina. Mas aos descobri que não era nada funcional. Todos os meus amigos dormiram naquela casinha, menos eu. Pensei em fazer uma reforma, ampliar a cozinha, aumentar os quartos. Isto já faz 15 anos e não consegui terminar. Também aprendi o quão difícil é construir. Quando adquiri o sítio, sem um tostão no bolso, minha esposa candidamente me falou: “aqui só tem mato, você vai comprar esse mato”. Não havia cercas ou benfeitorias. Olhei o por do sol e disse. Não estou comprando a terra. Estou comprando “aquele por do sol”. O tempo passou. Os vizinhos venderam tudo ou arrendaram para o agronegócio. A mata atlântica e as árvores nativas foram invadidas e destruídas pela cana de açúcar e pelos “laranjeiros”. Veneno e destruição. As pessoas chegam e admiram o meu sítio, porque o mato que minha companheira viu, tornou-se um verdadeiro campo de belíssimas árvores , com vigorosos angicos. Fiz todo tipo de reforma agrária e não deu certo. O nosso chamado “cabloco” origina-se de uma cultura que não convive bem com bons hábitos alimentares e com a própria independência. Aprenderam a receber ordens. Aprenderam a ser mandados. Aprenderam a “comer arroz e feijão”. Não comem verduras e nem colher do próprio solo àquelas coisinhas básicas, como o próprio arroz e feijão. É melhor ir ao supermercado que entrega tudo embalado e não dá trabalho algum. Um dia perguntamos a mãe do caseiro, o que ela estava com vontade comer. Ela disse: carne de porco, frango e leite. Não duvidem. comprei tudo no mercado municipal de Ribeirão Preto e levei ao Sítio para saciar a mãe do caseiro, cujo desejo de sonhar com a comida era limitado e poderia ser produzido por ali. Resolvi comprar uma vaca, para que produzisse leite para o caseiro que é solteiro e sua mãe, à época viva, pudessem tomar leite todos os dias. Olhando a vaca andar tranquilamente pelo pasto acompanhada do bezerro, perguntei qual a razão da vaca de leite estar livre: “Resorvi sortá, porque tirá leite dá muito trabaio”. O que fazer. É excelente trabalhador. Mas a cultura no Brasil é esta. Quem chega ao local espanta-se com as sombras, com as árvores,. com água e com aquele por do sol que não tem preço.


(antoniocalixto@aasp.org.br) – Rib. Preto, 07 de maio de 2.010

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