sexta-feira, 21 de maio de 2010

BOTAFOGO, COMERCIAL, OLÉ

BOTAFOGO, COMERCIAL, OLÉ

A cidade com belíssimos estádios, ressente-se da falta do “esporte bretão”. Botafogo e Comercial devem voltar ao lugar que merecem, com a política de pé no chão e dirigentes sérios Os percalços fazem parte da caminhada. Olé é realidade. A construção de edifícios humanos é mais importante do que edifícios de concreto , diria Érico Veríssimo. Investimento a longo prazo. O retorno é imediato, em prestígio e respeito da comunidade. O Olé, fruto da inteligência e criatividade de Edu é estrela que nasceu brilhando. No sonho do torcedor a fotografia do time do Palmeiras estrelado por Oberdan, Caieira e Turcão; Zezé Procópio, Túlio e Waldemar Fiume; Lula, Artuzinho, Oswaldinho, Lima e Canhotinho. Depois o esquadrão de 1.954 com um ataque formado pelos atacantes Liminha, Humberto, Ney, Jair e Rodrigues. O Jair da Rosa Pinto, folha seca. Aparece o time de infância campeão: Waldir, Djalma Santos, Waldemar e Geraldo; Zequinha e Aldemar; Julinho, Nardo, Américo, Chinesinho e Romero. Depois Vavá e alguns bondes como Geo, Bececê, Cruz. O menino de 11 anos vê pela primeira vez na Vila Tibério, um jogo de profissionais: Corinthians com Gilmar, Olavo e Oreco; Idário, Walmir e Benedito; Cláudio, Luizinho, Zague, Rafael e Boquita (o pai) contra o Botafogo de Machado, Sula e Julião. Antonio Julião Dicão e Gil; Alemão, Moreno, Mairiporã, Neco e Hélio. De relance o time do C. R. Flamengo de 1.955: Garcia, Tomires e Pavão; Jadir Dequinha e Jordan; Joel, Rubens, Índio, Evaristo e Zagallo. o Vasco de Carlos Alberto, Paulinho e Belini; Écio, Orlando e Coronel; Sabará, Livinho, Vavá, Walter e Pinga. Botafogo de Futebol e Regatas com craques como Manga, Newton Santos, Garrincha, Didi, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. América do Romário com Canário, Romero, Alarcom e Ferreira. E o ataque arrasador da Portuguesa: Julinho, Renato, Nininho, Pinga e Simão. Mais tarde, Felix, Ditão, Jutz, Servilho, Didi, Babá. São Paulo, campeão de 1.957, com Poy, De Sordi e Mauro. Sarará, Victor e Riberto; Maurinho, Amauri, Gino, Zizinho e Canhoteiro. O Real era mais Madrid com Dell Sol, Di Estefano, Puskas e Gento. Santos F.C. da década de 6O, Laércio, Carlos Alberto, Mauro e Dalmo. Ramiro, Formiga e Zito. Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Depois Sormani, Toninho Guerreiro. E antes disso, Manga, Hélvio e Ivan; Ramiro Formiga e Zito; Alfredinho, Álvaro, Del Vechio, Vasconcelos e Tite. O Pagão, titular. Vozes nos rádios portáteis ecoam: Pedro Luiz passa a bola para Mário Morais, que recua para Edson Leite que tabela com Geraldo José de Almeida, que vê bem colocado Estevam San Girardi, Carsughi, Alexandre Santos que encontram Luis Aguiar, Darcy Reis, José Silvério, Braga Júnior, Domingos Leone, Ethel Rodrigues, Sílvio Luiz , Geraldo Bretas, Armando Nogueira, Eli Coimbra., Mario Morais, Mauro Pinheiro, Orlando Duarte, Osmar Santos, Walter Abrão, Jorge de Souza, Jorge Kajuru. Aqui na terra, um timaço que preferiu a tranqüilidade da segunda divisão, mas que teriam espaço em qualquer esquadrão do mundo: Gavino Virdes, Glauco Dexter, Pedrinho Giacomini, Helton Pimenta, Sidney Quartier (sensibilidade e poesia), Antonio de Barros, César Bruno, Celeste Pastori, Luiz Carlos Brizza, João Gilberto, Márcio Morais , Márcio Bernades, Jovino Campos, Adalberto Valadão (cidadão do mundo), Miguel Leporasse, o eclético e genial Antonio Magrini, os versáteis Beschizza e Porto Alegre, Wilson Roveri, Etores Gianconni ( Lobo da Área), René Andrade e outros, ficam no centro do gramado. O mundo das idéias de Platão. Lendas fizeram o mundo mais feliz e ficarão para o” todo o sempre inscrustrados em nosso cantinho da saudade”, diria o grande Fiori Gigliotti,

Antonio Calixto, advogado e Professor. Foi Vereador, Vice-Prefeito e Deputado Estadual (antoniocalixto@aasp.org.br)

O LIVRO PONTO

Existe. A mulher do Ponto. A suas formas estão atenuadas. Está elegante e veste jeans. Seus passos nos corredores já não assustam tanto. Às vezes, dependendo do dia e do humor continua assustando. Quando olha de soslaio todos tremem. É católica fervorosa, religiosa, presente em todos os eventos da Igreja. Às 16.30 o maridão estaciona seu possante diante do local de efervescência. Como fiscalizar depois do horário. Faz isto sem dificuldades por outros olhos atentos e dispostos a controlar os rebeldes. O que importa é a missão cumprida. Um dia vai haver reconhecimento. O importante é a regra, o regulamento, o horário. A repartição é sua vida. Passa pelos corredores imprimindo a sua autoridade. Olha de soslaio, como se não tivesse vendo os trabalhadores sob sua batuta. Responsabilidade, eficiência, dever cumprido, profissionalismo pouco valem diante do olhar impassível daquela mulher, que encara o seu ofício mais que um dever, uma missão. Corre de ponta a ponta os corredores da repartição. Ela tem alguns alvos de busca favoritos. Rebeldes que não se amoldam ao esquema rígido, mas não escapam ao seu controle. Esse negócio de empresa moderna é coisa de neoliberais. Responsabilidade, eficiência, competência, produção são palavras abolidas e que não integram o dia a dia da Repartição. Aqui é à maneira antiga, como ocorreu no século XX e funcionou bem. O que vale é a presença física e o Ponto. O livrão azul desperta um temor quase sagrado. Mas ninguém tem culpa. Isso ocorre há anos. É preciso dar serviço para todos. É preciso fiscalizar, olhar, verificar, constatar, informar. Também a repartição está submetida à Unidade maior, que se preocupa em arrumar um lugar para todos. No tempo do liberalismo, da informática e da globalização é preciso continuar carimbando ou as funções acabam. É preciso preencher papeletas. É preciso interpretar as resoluções e manifestações da tecnocracia superior. Cursos de aperfeiçoamento, trabalho em grupo ou de equipe, bom atendimento ao público isso é miragem que não chegou ao serviço público do Brasil. Bobagem. Funciona assim antes do Adhemar de Barros e vai continuar funcionando depois do Serra. É cada um para si e Deus para todos, como se dizia antigamente. Uma das funções mais importante, é de fiscal do Livro-Ponto, algo antigo, mas eficiente,que além de controle serve como instrumento de poder e repressão. O livrão azul é temido e respeitado por todos.. Para que o controle seja mais eficiente sobre a população que circula desvairadamente pelo próprio público, criou-se a figura da “folha-ponto”. É uma forma de controlar melhor o alto escalão. A folha ponto é filha preferencial do livrão e também é muito respeitada. Todos os dias é lida, checada e revista. É assim que funciona. Sem mudança. É a rotina, a espera do enquadramento, do adicional, da Licença-prêmio, da Sexta-parte e de repente vai a vida, tragada pelo redemoinho de papéis inúteis e empoeirados num canto perdido do mundo.

(antoniocalixto@aasp.org.br) dezembro de 2.009

CADÊ MEU CHÁ

CADÊ MEU CHÁ ?
Ele chegou a repartição discretamente. Não queria ser nem reconhecido pelos talentos múltiplos que possui. Espirituoso, crítico, mordaz, inteligente tem uma história de rebeldia nos meios de comunicação. É conhecido desde o início de sua carreira. Graças ao seu esforço pessoal e a vontade de aprimorar seus conhecimentos cursou Geografia. Jamais usou sua influência para obter benefício. Entrou nos quadros do Estado pela porta da frente, mediante concurso público. Usa com o seu aprendizado na universidade em favor do povo. Não busca o politicamente correto, mas está sempre a serviço da causa da conscientização. Tem o poder de fazer programas populares, tanto no rádio como na TV, com qualidade. Aceita o debate, investe nele, induz a crítica e cada vez que aparece, marca com competência o seu nome. Sacrificou-se muito tempo, em outras pairagens distantes. Até que apareceu no Paraíso. Queria permanecer anônimo. O corpo forte, a voz conhecida e o apelido pelo qual é conhecido tornam impossível a missão de permanecer esquecido no canto de uma sala empoeirada pelos anos e burocracia endurecida. Cada Setor tem uma nomenclatura própria. Denominação dada pelos próprios servidores. Tem até Sorbonne, em homenagem aos intelectuais da vetusta universidade. Ele pertence a um setor dos mais difíceis e que na verdade suporta o ônus de trabalhos difíceis. Como todo mundo que aqui abarca, fica surpreso com os carimbos, os calhamaços de papéis, as relações de remessa e o imensurável número de “guichês”, em plena era da informática e da automação. Pouco a pouco vai descobrindo que os que menos ganham, na verdade são os que carregam o peso da máquina, sem rostos, sem salário, sem cursos de reciclagens ou relações humanas. Sem treinamento dentro da própria área de atuação. Não há estímulo, apenas o peso de uma burocracia centenária, que se prende a pormenores e não a responsabilidade, exigida hoje pelas empresas mais eficientes e modernas. Vai descobrindo belíssimas criaturas humanas, que a burocracia não conseguiu endurecer. Cada um dentro de suas limitações vai fazendo o pode. Um dia o novo burocrata chega na busca do líquido preferido, não o preto – mas o transparente , que denominam chá. Ele precisa tomar chá e comer em determinados períodos, com remédio de para uma cirurgia realizada. De repente, a Chefe da Limpeza, responsável pela ordem, pelo café, pela bolacha, resolve naquele dia não patrocinar o chá. E de repente estabelece-se a celeuma. O servidor reclama. A chefe da limpeza retruca. E tudo vai parar nas mãos da Superiora. E por petição. E no final, o novo servidor vai descobrindo que todos são vítimas de um sistema que oprime e não existem culpados. “O melhor é a gente se acostumar “. Mas diz em voz alta para todos possam ouvir: “cadê o meu chá, eu quero o meu chá, reclama como um bebê que naquele dia a mãe esqueceu de alimentar.
Rib. Preto, 05.04.10 - (antoniocalixto@aasp.org.br)

O MARMITEIRO

Como todos que chegam da sala de aula chegou a Repartição alegre e saltitante. Tem sobrenome de gente rica, mas é apenas mais um sofredor da área da educação em São Paulo. E as pessoas ligadas a essa área são vítimas da prepotência, da arrogância e do autoritarismo. E sair de uma sala de aula, que não oferece condições mínimas de trabalho é um grande alívio. Chegou sorridente, afável, conquistou amigos pela postura simples e afabilidade. Logo chegou a Cozinha. Lá é o lugar dos marmiteiros, onde cada um zela pelo seu prato de comida como se fosse o último, como diria Chico Buarque. As responsáveis pela limpeza tudo sabem, tudo enxergam. E a sua chegada a cozinha não passou despercebida por uma delas, que curiosa, não entendia àquele personagem, que chegava de mansinho e comia tudo que era do coletivo e a cada dia se tornava mais exigente: vinagre balsâmico, azeite extra-virgem, manteiga original, ovos vermelhos e tudo que fosse do bom e do melhor. Um dia, indignada percebeu que sob aquele olhar manso e cândido e aquele sorriso estava um “aproveitador.” Ele comia de tudo, saboreava de tudo, mas não colaborava com nada. O que é pior suas exigências quase sempre eram cumpridas. Até àquele de óculos, calça preta, sapato preto e meia marrom, que usava há várias semanas e conhecido por ser um grande conhecedor de finanças trouxe azeite balsâmico e azeite extra-virgem. Não é possível, dizia a observadora. Todos se curvam à vontade de um aproveitador que só sabe usufruir e jamais colaborar. Nem a ousadia de prometer tinha. Mas fazer o que ? O negócio é continuar comendo a comida dividida, na hora tão sagrada, onde todos esquecem da vida e riem do nada. E o aproveitador acaba sendo absorvido por todos que fazem das marmitas de todo dia, um grande banquete, porque regado a risos, a conversa fiada e com o sabor da amizade. Fazer o que ? Tem de tudo deste mundo. E o novo marmiteiro acaba de integrar esse reino anônimo “dos com marmita” e o universo daqueles que colaboram. E não abre mão de seus princípios de vida: “Eu colaborar o que ? Eles é que devem agradecer de um nome tão famoso como o meu, participar com eles e ainda com a obrigação de ficar olhando marmitas, com arroz, feijão e ovo ? E quando aparece alguma carne então ? É muito raro. Um bando de famintos? Eu tenho de cumprir a minha sina de esperar que apareça algo mais substancioso para alimentar o meu estômago, que desde que cheguei a repartição continua vazio ?” A Fazer o que ? A vida é assim mesmo. Vou seguir em frente. Suporto tudo, prá não ver cara de aluno. ? Até a Telma, que com sua língua ferina e vassoura alucinante vai destruindo tudo que vê pela frente. Até eu, que mal acabo de chegar ? E a minha presença não vale nada. Entro com prazer naquele círculo onde recebo sem dar. É o meu lema”.

14.05.10 – (antoniocalixto@aasp.org.br)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

ÚLTIMA HORA – Atualizado em 11/02/2000
LEI DA MORDAÇAConsultor Jurídico
"Enquanto os integrantes do Ministério Público em todo o país repudiam a chamada ‘Lei da Mordaça’, um promotor e uma promotora do município paulista de Amparo resolveram colocar a norma em vigor por conta própria."
Folha de S.Paulo
"Painel do Leitor", copyright Folha de S.Paulo, 4/2/00
"A chamada Lei da Mordaça é a resposta tardia ao exibicionismo do Ministério Público, que tem servido mais aos interesses de jornalistas e da imprensa despreparada do que aos reais objetivos da sociedade. A autopromoção a qualquer custo e o exibicionismo de muitos promotores, prejulgando antecipadamente os cidadãos brasileiros, nada têm a ver com liberdade de informação.
Com exceção daqueles mantidos em sigilo pela própria Justiça, os processos são públicos. Entretanto, não pode o cidadão imbuído de suposta ‘autoridade’ vaticinar e julgar, com divulgação sensacionalista, cidadãos que ainda não tiveram sentença transitada em julgado. É isso que se pretende coibir. Os direitos individuais, no capítulo referente à honra e à imagem dos cidadãos, devem ser respeitados e preservados, inclusive enfrentando aqueles que julgam erroneamente estar defendendo os princípios democráticos e o direito à informação. Antonio Calixto (Ribeirão Preto, SP)"

terça-feira, 11 de maio de 2010

BILE


Os últimos anos de sua vida já prenunciavam a sua partida. Não podia fazer o que mais gostava. Andar pelas ruas de da cidade. Distribuir carinho e solidariedade em cada pedaço do caminho. Professar sua fé espontaneamente pelas Igrejas que amava. Sua única viagem, uma visistação religiosa resultou na sua queda. Daí um martírio sem fim e sem queixas. Somente a resignação dos que tem fé. Para os irmãos mais velhos, uma irmã de verdade. Para todos irmãos foi mãe. O porto seguro, a mão erguida sempre e a voz quase rouca que nunca sabia dizer não. Foi uma lição singeleza. O seu trabalho foi o mais simples. Deu dimensão e humanidade ao ofício modesto de servente de grupo escolar, distribuindo silenciosamente carinho aos meninos de pés descalços e a meninos de pés não tão descalços.
Viveu para os seus santos, sua Igreja e seus pobres, transformados com em irmãos.
Viveu em silêncio. Discreta, tímida e partiu da mesma maneira, quase sem dizer adeus. Foi-se parte da nossa história. Partiu como um passarinho solitário, rumo ao infinito. Com certeza continuará zelando por nós, principalmente seus irmãos, que fazem do Natal uma data mais solitária ainda.


Antonio Calixto – alegriense, filho de Ayub e Nagib, irmão de Jamile, Zeca, Pedro, João, Abrão e Maria Inêz.


sexta-feira, 7 de maio de 2010

O MORTADELA


Chegou de mansinho no corrente ano na repartição. É Estagiário. Tem por volta de 16 anos. Não tem cerimônia, trata a todos por você. Como deve ser. É de péssimo gosto de chamar companheiros de trabalho de “Seo fulano” ou “senhor”, principalmente quando palavras soam decoradas e cantadas. Por não ter colocado o senhor ou doutor no antecedente de meu nome , sem cerimônia alguma, já ganhou minha simpatia. Aconteceu com todos. Essa gente, acostumada a dizer “pois não, senhor?"cantado e decorado deveria fazer um curso de relações humanas. O tratamento respeitoso, deve ser usado no momento e nas ocasiões certas. Mas o pois, não senhor....? das padarias chega a soar horripilante. É uma forma de abordagem obsoleta, tal como “em que posso ajudar?” das lojas. É uma falta total de sensibilidade de empresários que se julgam modernos. Não sabem copiar bem. No “Mac Donalds”, até um senhor mesmo de mais de 70 anos é tratado informalmente. Lá todo mundo é chamado de “você”. Somente a caretice brasileira poderia incorporar um tratamento tão formal nas relações de trabalho. É claro, que nós herdamos uma tradição de chamar pais e tios de “Senhor”. E devemos respeitar isso. A meninada de hoje, já superou essas barreiras e a distância entre o pais e filhos. Há mais diálogo, informalidade e amizade. O passado é importante, claro, a memória é importante, claro. Somos o que plantamos e o que fizemos.O Estagiário, tem seu jeito informal de ser, sem nunca ser desrespeitoso. É faminto. Como está em fase de crescimento, come várias vezes ao dia e seu fraco é pão com mortadela. É que fazemos às vezes em nosso trabalho, cotizando ou comprando por conta própria. Refrigerante e pão com mortadela. Mortadela barata por sinal E nada substitui os finais da tarde , porque o àquele lanche, junto com um refrigerante vagabundo tem o sabor da amizade, do companheirismo e do pão divido. É um tempo de mortadela sem tempo de mortadela no dente, como diria escritor. Eliseu, hoje é o famoso “Mortadela”.

O7.05.10 (antoniocalixo@aasp.org.br)

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O CORCOVADO

O CORCOVADO

Tenho um pequeno Sítio no município de Altinópolis, no local conhecido como “Corcovado”. Construi a princípio, uma casinha pequenina. Mas aos descobri que não era nada funcional. Todos os meus amigos dormiram naquela casinha, menos eu. Pensei em fazer uma reforma, ampliar a cozinha, aumentar os quartos. Isto já faz 15 anos e não consegui terminar. Também aprendi o quão difícil é construir. Quando adquiri o sítio, sem um tostão no bolso, minha esposa candidamente me falou: “aqui só tem mato, você vai comprar esse mato”. Não havia cercas ou benfeitorias. Olhei o por do sol e disse. Não estou comprando a terra. Estou comprando “aquele por do sol”. O tempo passou. Os vizinhos venderam tudo ou arrendaram para o agronegócio. A mata atlântica e as árvores nativas foram invadidas e destruídas pela cana de açúcar e pelos “laranjeiros”. Veneno e destruição. As pessoas chegam e admiram o meu sítio, porque o mato que minha companheira viu, tornou-se um verdadeiro campo de belíssimas árvores , com vigorosos angicos. Fiz todo tipo de reforma agrária e não deu certo. O nosso chamado “cabloco” origina-se de uma cultura que não convive bem com bons hábitos alimentares e com a própria independência. Aprenderam a receber ordens. Aprenderam a ser mandados. Aprenderam a “comer arroz e feijão”. Não comem verduras e nem colher do próprio solo àquelas coisinhas básicas, como o próprio arroz e feijão. É melhor ir ao supermercado que entrega tudo embalado e não dá trabalho algum. Um dia perguntamos a mãe do caseiro, o que ela estava com vontade comer. Ela disse: carne de porco, frango e leite. Não duvidem. comprei tudo no mercado municipal de Ribeirão Preto e levei ao Sítio para saciar a mãe do caseiro, cujo desejo de sonhar com a comida era limitado e poderia ser produzido por ali. Resolvi comprar uma vaca, para que produzisse leite para o caseiro que é solteiro e sua mãe, à época viva, pudessem tomar leite todos os dias. Olhando a vaca andar tranquilamente pelo pasto acompanhada do bezerro, perguntei qual a razão da vaca de leite estar livre: “Resorvi sortá, porque tirá leite dá muito trabaio”. O que fazer. É excelente trabalhador. Mas a cultura no Brasil é esta. Quem chega ao local espanta-se com as sombras, com as árvores,. com água e com aquele por do sol que não tem preço.


(antoniocalixto@aasp.org.br) – Rib. Preto, 07 de maio de 2.010

quarta-feira, 5 de maio de 2010

SASKIA

SASKIA

Você vem
Esqueço tudo
Os problemas triviais
Os medíocres
As injustiças

Ilumina o entardecer
Plantei suas árvores
Vivo de sonho
Os meninos cresceram
O mundo diferente
Luz e festa

A estrela brota no céu
Invisível e sem cor
brilhante e bela
Ilumina a terra
Tropeça nas nuvens
Brinquedos invisíveis
Bichinhos variados
Formas diferentes
Corre pelos cantos
Pelo mundo
Pisa nas estrelas
Renova o tempo
Novo sentido
Renasce a vida
Um caminho de postes iluminados


A. Calixto – Ribeirão Preto, 13.08.09 (antes de Saskia nascer)

A PHOTO

Recebo o “Cuscuzeiro”, de abril de 2.000. O número é 65. O “Cuzcuzeiro” ultrapassando os próprios limites, perpetuando a memória, escrevendo um tempo e inundando de emoções a nossa vida.Vejo a foto. Mergulho na estrada que andei. Constato o sonho que sonhei. As revoluções que não fiz. O espaço que percorri. Tudo torna-se pequeno diante daquela fotografia. A foto, que representa outras fotos, algumas que me vi, ainda menino, não identificado pelo jornal.Ofélia, lembra os filhos que convivi na infância: Sérgio e Sueli. Evidentemente, Salomão Felício, policial sem nunca ter sido. Era apenas irmão do Abud, da Maria, da Nem, do Pacata, irmão de todos. Dr. Nemésio, a elegância, a inteligência, o brilho, de um tempo que tem muitas homenagens a lhe prestar. Lá está, D. Nice, minha professora, amiga, beleza permanente, sintetizando com seu sorriso um tempo de felicidade. Invisível, um menino de óculos chamado Kodai, diferente de nossa geração de pés descalços e uma garota de nome Kátia, também na foto, com um felizardo, o Jamil. A Dona Chiquinha lembra João Aramim, a comunicação mais veloz daquela época, o “correio”, o filho Clodoaldo , Selma, minha professora do grupo escolar, que me resgatou para o mundo, o Marujo, que lá iniciou sua vida, perseguindo seu sonho.Uma rainha pequenina e amada faz a foto mais bela e comovente. É vó Mantura. Mãe de tantos filhos. Mãe de Nem, do Abud, da Maria Abrão, da Nauzura, da Marta, do Salomão, da Marta, do Pacata. A vó da Rita, do Zé, da Pepa, do Ivo, do Toninho, vó de todos de minha geração. Pudim igual e canudos recheados com doce de leite, nuca mais. Tenho o gosto doce de seu doce em minha boca. O seu bingo, nas noites de Santo Antonio da Alegria, era uma festa. E seu café, o melhor do mundo.Alguns partiram desta dimensão. Estão em algum lugar melhor, certamente. Deixam luzes, sonhos, alegria e a riqueza maior, que são as relações humanas. Nada supera o tempo real, vivido como se fosse único, vivido com nossas raizes e com nossa infância, na comunidade de irmãos, que o “Cuscuzeiro”, não nos deixa esquecer. Reparo que a foto não tem data. Também, isto não tem a menor importância. Seus personagens são eternos.

Antonio Calixto – alegriense. Orador da 1ª Turma do Ginásio Estadual “Odon Figueiredo Ferraz”. Presidente da Câmara de anto Antonio da Alegria, com 21 anos. Vereador, Vice-Prefeito de Ribeirão e deputado estadual. É advogado (TEXTO DE 2.000- publicado em “O Cuzcuzeiro”

O OLHEIRO

O OLHEIRO
Não me realizei financeiramente. Não sou um vencedor no mundo capitalista. Tenho consciência de minha capacidade profissional e da forma perfeccionista que exercço minha atividade . Quando comecei a trabalhar, inspirava-me em Francisco Julião, advogado nordestino e que ajudou a formar as “Ligas Camponesas.” Queria mudar o mundo. Dr. Orlando Cunha, no Escritório onde comecei como estagiário, disse: “É isso que você quer, trabalhar para pobre. Quem trabalha para pobre fica pobre”. Foi o caminho que trilhei. Fiquei pobre, mas tranqüilo comigo mesmo. Embora pouco valor tenha para o mundo exterior. Por coerência, comecei a minha vida profissional trabalhando para vários sindicatos de trabalhadores. Época da ditadura militar, em que os dirigentes sindicais atendiam em suas próprias casas. Eram pobres e morriam pobres. Hoje, o dirigente sindical é o verdadeiro “pelego”. Eterniza-se no cargo, tem assessor de imprensa, recebe vários salários, abocanha diárias, possuem carros e combustível pagos pelo sindicalizado e não existe fiscalização dos gastos, nem das eleições. A imprensa cala. A assembléias são fictícias que aprovam tudo. Alguns são fazendeiros e mandam seus filhos para a Europa. Nas festas de Primeiro de Maio, um verdadeiro festival de distribuição de carros, prêmios caríssimos e exibição de artistas que atraem multidões. O sonho dessa gente agora é o Parlamento, quando não o Executivo, de preferência, a Presidência da República . Tudo despolitizado. Andam de mãos dadas com os patrões. Acreditei que trabalhando para Sindicato estaria cumprindo o meu papel no mundo e defendendo “os fracos e oprimidos”. Somente no Sindicato dos Ferroviários fiquei durante dezessete anos com registro em carteia e tudo. Um dia pedi demissão. O presidente que me contratou é o mesmo até hoje. Já tenho idade para me aposentar. Chegou ocupar cargo no governo estadual, Secretário da Confederação de Trabalhadores, presidente do Sindicato dos Ferroviários da Zona Mogiana e pensionista da Fepasa. Vários salários e cargos ao mesmo tempo. Sem fiscalização alguma. Até hoje é presidente do Sindicato e faz o que bem entende e se reelege tranquilamente porque não tem adversários. Ajudou acabar com a própria FEPASA, porque jamais lutou ou denunciou ou combateu as administrações corruptas e ineficientes. Buscou-se bobagens, como passes livres, e outros pequenos privilégios, sem buscar o principal: dignidade profissional para os ferroviários, que faziam da ferrovia a extensão de suas casas. Com o Governo Lula essa gente abocanhou os “fundos de pensão” e outras boquinhas que tornam cada vez mais indigente o nosso País. Descobri tarde demais que não poderia sozinho transformar o mundo. Continuo com os mesmos ideais, porque acredito estar fazendo a minha parte no mundo, ainda que insignificante. A História fará as transformações. Ocupei cargos, alguns considerados importantes, mas não me vendi. Acredito que a vida é curta demais para entregarmos “a alma ao diabo”. Mas voltando ao olheiro. Toda profissão tem o seu aspecto sublime, mas o olheiro é o que há de pior. É hipócrita, sabujo, perigoso e quando perde o emprego há um alívio geral. Não é o ofício que dignifica o homem, mas o ofício de olheiro é difícil de ser gnificado.
Rib.Preto, 06 de maio de 2.010 (antoniocalixto@aasp.org.br)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

GREVE DOS PROFESSORES

Greve
"Para o ex-governador José Serra, a greve dos professores foi uma 'ação eleitoral' (Brasil, 24/4). E se a 'greve foi eleitoral', o que muda? Apenas foi uma greve tardia, que demonstrou as péssimas condições do ensino público em São Paulo e expôs de forma tímida 'o pacote de maldades' de um governo tenebroso e autoritário em relação aos professores e à própria educação. A greve tardiamente demonstrou o sucateamento da escola pública, o tratamento impiedoso aos professores, o descompromisso. Queiram ou não, a situação da educação em São Paulo será o 'calcanhar de Aquiles' de Serra na campanha presidencial. O caráter da greve não importa. O importante é a denúncia da farsa moralizadora da educação e do desperdício, com 'concursos' ilegais e inócuos, trazendo insegurança a pais, professores e alunos."
ANTONIO CALIXTO (Ribeirão Preto, SP)- CARTA PUBLICADA NA FOLHA DE SÃO PAULO

A FARSA DO CAPITALISMO.

Retomo a rotina. Revejo colegas de trabalho. Tento recompor as minhas idéias e minha agenda da semana. Tudo igual. A vida segue. Soube que o Ivo da Maria Abrão, passou por cirurgia do coração. Está sedado no HC, segundo o seu cunhado Fernando. Recebo insistentes pedidos do PSOL para ser candidato a deputado estadual ou federal. Não me animo. Sou político, como todo mundo. Até àqueles que dizem que não são. Tudo depende da política, inclusive a economia. Enquanto persistir financiamento privado de campanha, considero impossível elegermos representantes legítimos e autênticos. Os bons serão sempre à exceção. Sempre os representantes dos grandes grupos econômicos serão maioria. Isto, com ajuda da Mídia e da população, que não acompanha o péssimo desempenho de seus mandatários. E quando saimos em campanha, somos todos iguais, nivelados por baixo e chamados não raro genericamente de "desonestos". É muito difícil, para quem faz política por vocação e que objetiva defender realmente os interesses da sociedade enfrentar as forças poderosas, que transformam as casas legislativas e o próprio Executivo em sala de visitas de suas poderosas empresas. Elegeram. Então cobram e muito caro. É balela dizer que o financimento privado não é pago pelo povo.
A eleição sai caro para o povo. E achama que as grandes empresas financiam por mero voluntarismo e por interesse social. O interesse é para traficar influência, continuar dominando todos os governos, com ajudas de políticos menores, que se satisfazem com os cargos que lhe são oferecidos. Um dia vai mudar. Mas, com educação correta, com povo organizado e conscientizado que dirá um basta a tudo isso. O último bastião do neoliberalismo acabou de cair. Aliás, o mito da salvação do mundo. A união Européia acaba de doar a Grécia milhões de euros para que a Europa não seja contaminada por uma nova crise mundial. Cai a farsa do liberalismo e do capitalismo.

domingo, 2 de maio de 2010

SASKIA

SASKIA

Você vem
Esqueço tudo
Os problemas triviais
Os medíocres
As injustiças

Ilumina o entardecer
Plantei suas árvores
Vivo de sonho
Os meninos cresceram
O mundo diferente
Luz e festa

A estrela brota no céu
Invisível e sem cor
brilhante e bela
Ilumina a terra
Tropeça nas nuvens
Brinquedos invisíveis
Bichinhos variados
Formas diferentes

Corre pelos cantos
Pelo mundo
Pisa nas estrelas
Renova o tempo
Novo sentido
Renasce a vida
Um caminho de postes iluminados


A. Calixto – Ribeirão Preto, 13.08.09( antes de nascer Saskia)

A VIDA COMEÇA TODOS OS DIAS

Domingo, Preparei-me para assistir o jogo entre Santos F.C. e Santo André. Final do Campeonato Paulista. Ganhou o Santos, com ajuda do juiz. Na verdade, assisti apenas o final porque dormi a tardei inteira. Parecia o refazimento do esgotamento fisíco e mental de uma vida. Seria a despedida de Giovanni, o que não aconteceu. Mas, fiquei feliz, com suas declarações e principalmente porque soube o momento de encerrar mais um ciclo. A vida ocorre em ciclos. Muita gente, acha que não. Quando perdem o poder, o cargo, alguns uma simples escrivaninha de trabalho consideram que a vida acabou. Quando estive na comemoração dos 20 anos da constituinte estadual, percebi que vários colegas ainda continuaram presos ao pequeno poder que a transitoriedade do cargo de deputado oferece. Vi penssoas envelhecidas, frustradas. Alguns ainda continuam disputando e ocupando cadeiras, como se tudo isso fosse a própria vida. A vida continua. Enquanto estivrvermos vivos e desfrutando de saúde, o resto não tem a menor importância. Você não pode envelhecer porque perdeu supostos momentos de glória. Isso não existe. A própria existência é transitória. A memória é importante, porque representamos hoje a nossa história de vida, coerência e tudo que plantamos. Mas é preocupante viver do ontem, achando que fizemos grandes façanhas. O importante, em qualquer tempo, fazer a nossa parte e manter despoluído o nosso espaço, afastando fantasmas da competição do consumismo e da vaidade. Somos apenas um mínimo grão de areia na imensidão da vida e totalmente desconhecidos fora de nossa aldeia. As gerações que chegam, mal sabem que um dia existimos. Concordo com Érico Veríssimo em seu "Olhai os Lírios do Campo", que li na minha pós adolescência. Retomei os meus estudos na seguna série do antigo ginasial, com quase 17 anos de idade. Com estímulos de mestres verdadeiros redescobri a mim mesmo e a importância de seguir em frente. Estudei pouco. E li pouco. E como disse Érico: "a vida começa todos os dias"

sábado, 1 de maio de 2010

É SABADO

Acabo de chegar do Sitio "Santa Maria", única propriedade que tenho, situada no município de Altinópolis, em conpanhia de Sônia. Tento reformar e ampliar a casa há 20 anos. Nunca fiquei de um dia para o e nem pernotei lá. Sou um urbano desesperado, que não aguenta por muito tempo o silêncio. Nada é melhor e mais salutar para a vida do que a conversa com o "caboclo", que na verdade sabe mais e vive melhor do que nós, da pretensa classe média. Digo pretensa, porque acho que a classe média acabou. Hoje temos uma casta de privilegiados e os demais são remediados. O médio sofre mais, porque vive como rico, sem poder. O Trabalhador Rural, que expulsaram das colônias e do campo pelo agro-negócio, transformou-se no bóia-fria da cidade. E àquele remanescente que ficou, ainda assim, vive bem. Na simplicdade de suas vidas, não está preoucupado com Shopping Center, com hipermecados. Vai a compra uma vez por mês e compra uma cesta básica, com algo mais, o que é o suficiente para viver bem e passar o mês, como dizem. Somente chegou lá, a mania do celular. O rapaz, que trabalha comigo há 20 anos, solteiro, que vai e volta, porque sabe que somos sua família, compra um celular a cada dois meses. Cada operadora que não responde ao seu chamado, vende, barganha ou joga fora o celular, por achar que a culpa é do aparelho e não do sistema que é falho. Ainda assim, Zezinho, como é chamado vive melhor do que eu, porque não tem dívidas, não tem conta em banco e sempre tem dinheiro no bolso, com o precário salário que consigo pagar. Sempre um pouquinho acima do mínimo. Porque, na verdade, nem isto posso pagar. Permanece comigo porque tornou-se membro de minha família e tenho responsabilidade pessoal e moral para com êle. Ele faz o seu horário. Na veradade, não fica parado nem aos sábados ou domingos. E quando resolve, vai a cidade em qualquer dia da semana e de bicicleta. Com 60 anos, anda mais de 40 quilômetros sem sentir o mínimo cansaço. Não fica doente, não toma remédio e não sabe o nome de nenhum. Tomam algum remédio que lhe dão sem saber o que quando uma gripe o acomete. Somente ficou doente quando mudou uma vez e teve uma gripe mais tenebrosa do que as anteriores. Não sabe nome de remédio. Não gosta de ser mandado. É o seu próprio patrão. No sítio, êle tem as sua próprias normas. Come arroz, mas não come ovos, ignora verduras e detesta leite. É um rurícola diferente. Gosta da enxada, mas desta se sentir escravo de animais. Porisso até um velho cachorro que apareceu por lá, já sumiu, com sua ajuda. É uma alma pura, que adora crianças. É sempre enganado por um "compadre", que sempre o explorou, vendendo carro velho e não entregando, pedindo dinheiro e não pagando. Mas, tudo isso para ele não representa nada, porque acha que para viver basta o mínimo para ter o seu arroz e feijão. Na verdade, ao invés de aprender, acaba ensinando a gente, que com simplicidade e longe do consumismo, vive-se bem melhor. Talvez seja o sábado o meu melhor dia da semana. Porque é o encontro com as pessoas simples e com a natureza, sempre bela. Uma prosa sem compromisso, que faz o domingo melhor.