terça-feira, 6 de setembro de 2011

A Violência e o Descaso das Políticas Públicas



As notícias da semana envolveram mais denúncias de Crimes contra a Administração Pública no Ministério dos Transportes... aliás, quem não é cínico sabe que está tudo como antes num reino podre que onde aperta sai secreção purulenta! As grandes estruturas de mídia no mundo estiveram voltadas para mais uma demonstração de intolerância religiosa e racial demonstrada nos mais de 70 assassinatos em Oslo... E o mundo musical sentiu a tristeza na tragédia das drogas destruindo totalmente a talentosa e sofrida Amy Winehouse. No Brasil, entre tantos fatos alarmantes, mais uma demonstração estarrecedora e vergonhosa de homofobia quase matando, por espancamento, um pai que abraçava carinhosamente o seu próprio filho!

A nossa querida Alagoas acordou mais um dia com a brutalidade da violência... Entre muitos e muitos outros casos, a Sra. Maria de Lourdes foi arrastada – da cama onde dormia com seus filhos pequeninos – e esquartejada em via pública de bairro residencial na periferia de Maceió. Os assassinos utilizaram o braço decepado da jovem para escrever numa parede – com o próprio sangue da vítima - a palavra “cabueta”, ou seja, delator do tráfico de drogas! As fotos são capazes de gerar mais do que indignação... na verdade promovem desolação e tristeza profunda. O conhecido site YouTube retirou de circulação o vídeo com a reportagem sobre este crime alegando “cenas de conteúdo chocante e repugnante” e o Twitter removia imediatamente todas as fotos do caso quando postadas.

A Secretaria de Segurança Pública (Defesa Social ou qualquer nomenclatura que a ela seja dada) tem conhecimento que na mesma localidade desse crime brutal, com a mesma motivação e idêntico modus operandi (mata, esquarteja, degola e põe a cabeça da vítima numa estaca na mesma via pública) há poucos meses outros também foram assassinados. O que dizer em casos assim? Eu - como não sou dos esgotos dos ratos silenciosos que fingem educação e moderação porque são associados dos políticos ladrões - repito: Governos Covardes! Governos de Pusilanimidade! (Quem acha essa formulação exagerada veja as fotos e imagine a sua filha sendo a vítima!). O pior de tudo, é que nós sabemos que se esses crimes fossem com pessoas ricas (com todo respeito à dor do coração da mãe que perde um filho, pois independente de classe social é a mais intensa dor que há), os Governos já teriam montado uma verdadeira operação de guerra para destroçar o que pela frente passasse como suspeito dessa repugnante e macabra demonstração de violência. Como as vítimas são muito pobres, “as autoridades” tratam como se fosse apenas mais um caso e certamente irá mesmo apenas compor as frias estatísticas oficiais, os estudos acadêmicos e as justificativas de necessidade de mais dinheiro público sem fiscalização. Enquanto isso, o Império do Medo continua se consolidando - e arregimentando o exército de mão-de-obra escrava em comunidades vulneráveis socialmente - com o apoio e a proteção das Muralhas de Impunidade construídas pelos Governantes omissos e cúmplices, e claro com a ajudinha cínica de muitos eleitores igualmente covardes!

É fato, que a situação de violência, em Alagoas e no Brasil, demonstra o total descontrole do Aparelho de Estado... não há Prevenção com Políticas Sociais, nem Repressão com o Aparato Policial, nem Recuperação e Reintegração Social nos Presídios e muito menos a articulação dessas ações como mecanismos essenciais para minimizar o dramático cotidiano de violência devastadora. Além do que, excetuando as corjas omissas e cúmplices dos Governos – Federal, Estaduais, Municipais – a população em geral reconhece que a Miséria Humana e a Impunidade são verdadeiras fábricas de criminalidade e barbárie social.

O mais difícil de suportar – para quem tem compromisso social e conhece as centenas de projetos e propostas alternativas que podem ser amplamente viabilizadas com eficácia – é identificarmos a inoperância, incompetência e insensibilidade em todas as áreas que deveriam atuar de forma integrada a curto, médio e longo prazo para minimizar o risco da banalização da violência. São conhecidas as Leis, Propostas e Projetos para Prevenção à Violência... da Educação, Música, Cultura, Esportes até a Capacitação Profissional e Arranjos Produtivos que possam dinamizar a economia local gerando emprego e renda e a estruturação das Polícias Comunitárias (incluindo as guardas Municipais); para a Repressão Qualificada... com Policiais Civis e Militares em condições dignas de trabalho e salário (e não essa desmoralização a que são submetidos pela precariedade cotidiana) até a utilização da alta tecnologia disponível, de baixo custo e grande eficácia nas investigações e na redução da letalidade policial; para a Recuperação e Reintegração Social dos(as) que estão nos Presídios ou em Restrição de Liberdade... com Escolarização, Capacitação Profissional, Estruturas Econômicas Auto-Sustentáveis até a Inserção no mercado de trabalho para superar as danosas experiências de quem vai ao presídio por pequenos delitos e lá acaba se transformando num lixo humano submetido à violência sexual e depósito de hepatite, AIDS, tuberculose ou aprendiz de crimes infinitamente piores dos que motivaram a prisão e assim realimentando a barbárie.

Sei que muitos, aqui e alhures, vivem da frieza pragmática - seja como mecanismo de defesa para já não mais sofrer, seja para continuar usufruindo das súcias de vadios políticos (pleonasmo intencional!). Mas eu e muitos mais continuamos lutando e repetindo Saramago: “Se tens o coração de ferro, bom proveito. O meu fizeram-no de sangue e sangra todo dia!”











QUEM É CÚMPLICE DA PODRIDÃO DA CORRUPÇÃO?

Texto de Heloisa Helena

O brilhante escritor – e Prêmio Nobel de Literatura - Gabriel Garcia Marques em análise sobre a corrupção no seu país proclamou “na Colômbia onde aperta sai pus!”... igualzinho aqui no Brasil mas ainda bem que foi ele quem falou pois assim os vadios da política alagoana não podem gritar contra mim “agressiva, histérica”! Embora eu nem mais me importe com essa cantilena deles até por que minha maravilhosa porção ternura é preciosa demais pra usar com a canalha da política... pra eles reservo mesmo é a minha insuportável porção caldeirão de fervura!

Mas vamos aos fatos dos longos últimos dias... Corrupção, Corrupção, Corrupção, Corrupção! Ou como diz na Legislação: Formação de Bando ou Quadrilha, Tráfico de Influência, Lavagem de Dinheiro, Condescendência Criminosa, Improbidade Administrativa, Intermediação de Interesse Privado, Peculato, Prevaricação, Corrupção Ativa e Passiva, Exploração de Prestígio, etc, etc... e pra completar tudo isso, diz a Lei – e a Lenda - que deverá cumprir muitos anos de Prisão todo Político Ladrão!

Alguns dirão, relembrando fato histórico importante, que o Brasil desde a Carta de Pero Vaz de Caminha adotou o “jeitinho”... lembramos todos que após 450 linhas de preciosos e interessantes detalhes sobre tudo o que via, o dito cujo termina nas últimas três linhas solicitando ao El-Rei Dom Manoel uma “singular mercê” (num misto de nepotismo e tráfico de influência) em liberar - sem pena pagar - o seu genro preso em São Tomé por ser mal acostumado a roubar igrejas e surrar padres.

Na história recente do nosso país continua se vendo tudo no quesito roubalheira dos cofres públicos e impunidade... Na política de Juros estratosféricos para o parasitismo do capital financeiro e lucros dos bandos políticos que em torno do poder orbitam; Na política de privatização (assumida ou enrustida) com dinheiro público; Nos financiamentos de campanha (muitos empresários cínicos criticam a corrupção, mas adoram financiar político ladrão); Na Estruturação do Orçamento e Execução (onde são liberadas “Emendas” sob a égide do Propinódromo e da Promiscuidade mais bandida e vulgar); Na indicação preferencial para a ocupação de Cargos Públicos de profundos conhecedores do ofício de descaradamente roubar; Na comercialização dos segredos de Estado ganhando milhões às custas do tráfico de influências; Na ostentação vulgar da riqueza e patrimônio construído pelos saqueadores dos cofres públicos e integrantes da rede criminosa; Nas modalidades mais “criativas” de dólares roubados transportados nas peças íntimas do vestuário masculino ou produtos alimentícios; Etc, Etc!

Nos fatos recentes sobre novos episódios de corrupção e banditismo político, a polêmica foi toda direcionada para o debate sobre intolerância, uso de algemas e direitos dos presos! Os indícios relevantes de Crimes contra a Administração Pública e as provas incontestáveis da velha metodologia da vigarice política e patrimonialista na Gestão do Aparelho de Estado foram escamoteadas. Quero deixar registrado o profundo respeito que tenho aos argumentos utilizados, mas também o profundo desprezo que tenho por muitos cínicos manipuladores e falsários que usam esses argumentos apenas para proteger os apaniguados e associados governistas das operações criminosas (em Alagoas é a mesma cantilena quando prendem políticos larápios!). Vejamos os importantes argumentos utilizados – com o palavreado assemelhado - pelos governistas e respectiva base bajulatória para cobrarmos dessas mesmas autoridades o rigor na aplicação da Lei e a veemência nos discursos quando estiverem sendo investigados e expostos de forma humilhante os milhões de Pobres do Brasil ou os Inimigos das Majestades de Plantão: 1. Garantir a existência de uma Justiça eficaz, sóbria, séria, racional, cautelosa, incontestável nas atitudes e providências tomadas; 2. Garantir o impedimento da violação da legislação que protege a imagem, a intimidade, a privacidade e assim evitando a exposição humilhante do preso e a destruição da sua honra e dignidade antes de rigorosamente apuradas as denúncias em obediência ao Estado Democrático de Direito. 3. Garantir a apuração e punição rigorosa em eventuais excessos cometidos pelo Aparato Repressivo Policial com ilegalidades no cumprimento de mandatos de busca, apreensão e prisão. Sendo sempre importante lembrar – às “Autoridades” viciadas na roubalheira e aos eleitores omissos ou cúmplices - que deve ser uma luta incansável da sociedade preservar a Honra e a Dignidade de quem a tem... Político Ladrão e os dele Associados já a perdeu quando resolveu ser parte dos Podres Submundos do Poder.

Para terminar só lembrando a alguns cínicos governistas que condenam a “truculência” da Polícia Federal diante dos Roubos aos Cofres Públicos que esse mesmo Comando Político (Lula, Dilma, José Dirceu) USOU em agosto de 2003– mesmo sob os dignos protestos de honestos petistas e corajosas Associações de Policiais Federais em todo país – a brutal força do Centro de Operações Táticas da Polícia Federal (diretamente ligada à Casa Civil e Presidência da República) armada de fuzis, cassetetes e bombas de gás para espancar 15 (quinze) funcionários do INSS que em Brasília REIVINDICAVAM SALÁRIOS (entre eles a hoje Deputada Estadual RJ/ Janira Rocha e uma Senadora da República/eu, Heloísa sem medo dos Gritos dos Senhores da Casa Grande Palaciana e sem nenhuma etiqueta na testa dizendo o preço!). Mas... Avante que a Vida é Bela... mesmo quando nos deparamos com uns calhordas nos Caminhos traçados por ela!!







A FARSA DO AUMENTO DO NÚMERO DE VEREDORES

Texto de Heloisa Helena

Este artigo pretende, humildemente, alertar ao Povo de Maceió (pois ainda haverá Votação em Segundo Turno) e de outros Municípios – em Alagoas e no Brasil – sobre a Farsa Técnica e Fraude Política que aconteceu na Câmara Municipal de Maceió na Votação de Aumento do Número de Vereadores e que pode copiada por muitos aqui e alhures!
Vou apresentar detalhadamente os mecanismos que foram de forma ardilosa utilizados para que este não aparente ser o choro dos derrotados na dita votação... Até porque não é a primeira derrota na minha limpa e digna história de vida num “mundo” majoritariamente podre da política! Muitas e muitas vezes lutei por causas consideradas perdidas... Muitas e muitas vezes cheguei em minha casa com a triste sensação de que estava lutando em batalhas já consideradas antecipadamente invencíveis e mesmo assim lutei com todas as minhas forças e de cabeça erguida fui derrotada... Muitas e muitas vezes a lágrima caiu e o coração apertou quando eu precisava aparentar ser muito forte pra enfrentar uma canalha política que infelizmente não consegue conviver com mulheres que não se ajoelham covardemente diante de quem tem poder!
Vamos então aos argumentos utilizados pelos que defendem a ampliação de 21 para 31 Vereadores... Não vou falar de “ampliação da democracia” pois se isto fosse verdade - e não uma vergonhosa demagogia - eles teriam votado favorável aos Projetos de Plebiscito, Referendum ou Consulta Popular! O que está em jogo é a velha e medíocre matemática eleitoralista associada com o interesse de muitos em ganhar eleição de qualquer jeito seja parasitando alguém, comprando votos ou na moleza das facilidades de mais vagas e ponto! Vamos aos “argumentos”... (1). A Constituição Federal obriga que aumente o número de Vereadores por que a População aumentou... MENTIRA! A Emenda Constitucional 58/2009 manda – no Inciso IV do Artigo 29 do Capítulo IV da Constituição Federal – que seja observado para a composição das Câmaras Municipais o LIMITE MÁXIMO e não o Número Mínimo de Excelências. (2). O Aumento de mais 10 Vereadores, além dos 21 existentes, não significará Aumento de Despesas aos Cofres Públicos... MENTIRA! Esse “argumento” é de gargalhar - se cínico e trágico não fosse - até por que não cabe na cabeça de ninguém (que tenha alguns neurônios em funcionamento) que 10 Vereadores a mais não significará mais despesas, mais assessores, mais carros, mais combustível, mais verba de gabinete, mais gabinetes, e mais do lícito e do ilícito! Manda o Artigo 29-A da Constituição Federal que o total das despesas do Poder Legislativo municipal NÃO PODERÁ ULTRAPASSAR 4.5% do somatório de receita tributária e transferências, mas NÃO manda que a cada aumento de arrecadação o Teto Constitucional vire Piso de Repasse. Exemplo: Em 2010 a Câmara Municipal recebeu oficialmente em reais 40 milhões 495 mil (desses R$ 35.795.000 do Orçamento e R$ 4.700.000,00 em suplementação), em 2011 receberá 46 milhões 203 mil fora. E em 2012 aumentará novamente e com mais Vereadores aumentará muito mais! Pra efeito de comparação todo o Orçamento da Área de Assistência Social (que cuida por Lei de TODOS os pobres, excluídos, marginalizados em Maceió) é de 29 milhões que pode nem ser executado, pois enquanto a Execução Orçamentária da Câmara é sempre de 100% a das outras Áreas Sociais pode nem chegar a 20%. Qual a razoabilidade e racionalidade esperada? Se aumentar a Arrecadação (à custa da exploração especialmente dos mais pobres com tributos indiretos ou da classe média assalariada e setor produtivo) o dinheiro arrecadado NÃO pode privilegiar as Excelências Vereadores ao invés de Investimentos em Saúde (cuja desestruturação está matando pessoas pela ineficácia do sistema), Educação (Música, Cultura e Esporte para impedir que Crianças e Jovens sejam arrastadas como mão-de-obra escrava do narcotráfico), Geração de Emprego e Renda (com Investimentos em Infra-estrutura e Arranjos Produtivos Locais nas Comunidades Vulneráveis Socialmente), e muitas outras Políticas Públicas só para exemplificar... Nenhuma Lei manda – NENHUMA – que o Limite Máximo Constitucional/Teto se transforme em Obrigatório Piso de Repasse para os Insaciáveis.
Mas.... Ai ai ai... Como se tudo isso muito já não fosse, ainda resolveram fraudar o Processo de Votação! Ou confeccionaram por safadeza e mau-caratismo Cédulas de Votação em número maior e incompatível com os Votantes ou o Rato Roeu o Voto de Alguém no caminho da Urna! Tenham certeza os leitores, que são nessas horas que aumenta a minha já imensa vontade de abandonar a política... mas são também nessas horas que sinto aumentar a minha responsabilidade em honrar aqueles – que se estivessem em meu lugar – não aceitariam a podridão dos esgotos da política como se perfume de jasmim fosse! Assim sendo... Sigamos em frente, enxugando as lágrimas e erguendo a cabeça com a consciência tranquila de quem não se acovardou no campo de batalha... Ou como diz a beleza do Grande Sertão Veredas: “A vida é ingrata no macio de si... mas transtraz a esperança mesmo do meio do fel do desespero!”

Eleições Municipais 2012 na Internet


       Não que é permitida a campanha eleitoral propriamente dita, mas é possível fazer campanha pela internet - a pré-campanha.
       Já temos os pré-candidatos nos partidos políticos. O uso da internet nos processos eleitorais e a exploração completa e mais eficiente das mídias sociais como novos canais de comunicação fará que a voz, a imagem e as mensagens de cada político atinjam os eleitores.
      A internet é uma ferramenta para modernizar as eleições, servindo para convidar o eleitor a participar da concepção aos bastidores das campanhas de seus candidatos, por fotos ou vídeos do YouTube. Áreas de recado se tornarão palcos de opinião e trarão o eleitor para o debate político, passando a servir-lhe como instrumento de diálogo e participação na campanha.
      As redes sociais representam uma oportunidade de ampliação da base social e eleitoral de um político e poderosos canais de divulgação e promoção de conteúdos sobre o candidato, servindo a eles como perfeitas plataformas de disseminação de mensagens e notícias espontaneamente reproduzidas por eleitores.
      O eleitor está mais bem informado e conseqüentemente mais crítico, mas isso só será problema para o candidato que não conseguir acompanhar o novo momento político que a tecnologia tem trazido às sociedades.
      O papel que uma campanha eleitoral deve cumprir é o de envolver o eleitor no seu projeto e a internet é a melhor forma de se construir isso.

Fonte: Campanha Digital

sábado, 13 de agosto de 2011

"BICO LEGAL"- MAIS EXPLORAÇÃO POLICIAL?


Antes de ir ao assunto duas considerações: 1. Este Artigo apresenta propostas concretas, ágeis e eficazes para a melhoria das Condições de Trabalho e Salário para os (as) que fazem, de fato, a estrutura da Segurança Pública. 2. Se os Policiais quiserem – na luta por melhores salários - ocupar o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, o Palácio do Governador ou quaisquer das estruturas políticas contarão com meu apoio e minha presença para o que der e vier. É necessário deixar isto por escrito até para evitar que alguns vagabundos da política - de olho no imenso contingente eleitoral das polícias e suas famílias - saiam por aí a afirmar que eu sou contra a melhoria das condições de vida, salário e trabalho dos policiais militares e civis que vivenciam uma vergonhosa e degradante condição salarial. Tenho obrigação de respeitar quem honestamente defende o “bico legal” ou “lei delegada” por já não mais acreditar na possibilidade de concretização de nenhuma outra alternativa de melhoria salarial... Afirmo que a esses eu respeito com total solidariedade! Mas se alguma personalidade política acha que eu – especialmente como profissional da Saúde Pública - vou me esconder deste debate ou tomar o lado fácil do aumento da exploração de uma força de trabalho já intensamente espoliada engana-se profundamente! O oportunismo eleitoral, a calhordice política e os roubos aos cofres públicos podem até ajudar a ganhar eleição em Alagoas, mas eu estou entre os que preferem a tristeza da derrota à alegria dos que são parte dos esgotos da vadiagem e demagogia política.

Os Trabalhadores da Segurança Pública (homens e mulheres como Policiais Militares e Civis, Bombeiros, Agentes Penitenciários, etc) constituem a categoria profissional que de forma mais intensa lidam diretamente com a vida humana - podendo perder a própria vida e podendo tirar a vida de outra pessoa - para garantir o exercício profissional. São ao mesmo tempo alvo e fonte da violência, pois vivenciam situações extremas no cotidiano do trabalho - sendo expostos todos os dias a estressores e riscos de dimensão extraordinária – com grandes perdas emocionais e materiais e sem as mínimas condições objetivas de implementar o trabalho real conforme a organização do trabalho prescrito. Estão submetidos a longas, perigosas, exaustivas, mal remuneradas ou não remuneradas jornadas de trabalho, por exemplo: Têm o dever de ficar trabalhando sem remuneração – mesmo após o cumprimento da sua escala de serviço – quantas horas sejam necessárias em situação de flagrante delito ou mesmo que não estejam no exercício da atividade também têm a obrigação de agir (flagrante compulsório e não facultativo); Ganham salários miseráveis ou são submetidos a relação escravagista... Ou seja: SEM pagamento, sem hora extra, sem periculosidade, sem adicional noturno (na Polícia Civil é a “fortuna” de no máximo 8 de, em média, 40 reais), sem descanso e folga no tempo necessário para recuperação - ao menos - das condições físicas e emocionais... Mas, COM ausência de recursos materiais para o enfrentamento da criminalidade, com insatisfação e dificuldades na ascensão profissional (deviam se envergonhar de falar em “merecimento” e vagas para promoção), com eventos traumáticos que levam à depressão, alcoolismo, crônicos problemas cardiovasculares, transtornos psiquiátricos muito graves e desestruturação familiar, entre outros.

O Projeto do “Bico Legal” ou “Lei Delegada” significa NÃO mudar nada dessa grave situação! A proposta, de fato, legaliza o aumento da exploração de uma força de trabalho já extremamente explorada (pelo Poder Público ou Bicos Privados) e com o discurso fácil do trabalho voluntário empurrará esses trabalhadores ao máximo de dias “voluntários” possíveis na perspectiva de melhoria salarial. Na maioria dos casos o desespero empurrará os Policiais a tentarem conseguir o máximo de horas possíveis e sobrando apenas 6 (seis) dias em cada mês (de descanso ou folga!). Se o Poder Público Municipal alega que tem dinheiro sobrando poderá promover Convênio, Protocolo de Gestão ou qualquer outra alternativa legal para Aumentar os Salários das Polícias mas sem aumento da carga horária e portanto dentro da já exaustiva carga de trabalho a que são submetidos! É inaceitável partirmos do fatalismo derrotista que nenhuma das Propostas Concretas de Melhoria das Condições de Trabalho e Salário podem ser viabilizadas... é simplesmente a política do não a todas as alternativas factíveis como 1. Aprovação do Piso Nacional Salarial (conhecido como PEC 300); 2. Instituição do Fundo Nacional de Segurança pública com a participação dos Entes Federados e percentual definido para pagamento de salários (nos moldes do Fundo da Educação); 3. Aumento dos Salários e Melhoria das Condições de Trabalho; 4. Concurso Público na Estrutura da Segurança Pública, inclusive para adequação de Recursos Humanos aos graves Indicadores Sociais relacionados à Violência; 5. Alongamento do Perfil da Dívida Pública para redução do comprometimento da Receita Líquida Real dos Estados e carimbando (se não as excelências roubam ou desviam!) para as Políticas Públicas diretamente envolvidas na redução da Violência. 6. Viabilização das Políticas Públicas e Sociais diretamente relacionadas ao aumento da criminalidade (na Prevenção, Promoção, Repressão e Ressocialização).

Alguns gritarão: Nada disso dá certo! Nada disso dá certo! ...E digo eu e muitos mais: Também pudera né? Com essa gentalha rica, poderosa, corrupta, cínica e de alma pequena comandando a política... Mas, como diz a Infantaria: O difícil a gente faz e o impossível a gente tenta! Lutemos!

Texto de Heloisa Helena (ex-Senadora da República - PSOL)


domingo, 7 de agosto de 2011

DIFICULDADES GERADAS PELA CRISE NA EUROPA

A cada dia fica mais difícil para os cidadãos distinguir entre uma política de direita e outra “de esquerda”, já que ambas respondem às exigências dos senhores financeiros do mundo. Por acaso, a suprema astúcia destes não consistiu em colocar a um “socialista” na direção do FMI com a missão de impor a seus amigos “socialistas” da Grécia, Portugal e Espanha os implacáveis planos de ajuste neoliberal?

Texto de Ignácio Ramonet

Um dos homens mais poderosos do mundo (chefe da maior instituição financeira do planeta) agride sexualmente a uma das pessoas mais vulneráveis do mundo (modesta imigrante africana). Em sua desnuda concisão, esta imagem resume, com a força expressiva de uma foto de jornal, uma das características medulares de nossa era: a violência das desigualdades. O que torna mais patético o caso do ex-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) e líder da ala direita do Partido Socialista francês, Dominique Strauss-Kahn é que, se confirmado, seu desmoronamento constitui uma metáfora do atual descalabro moral da socialdemocracia. Com o agravante de que revela, ao mesmo tempo, na França, as carências de um sistema midiático cúmplice.
udo isso deixa extremamente indignados muitos eleitores da esquerda na Europa, cada vez mais induzidos – como mostraram na Espanha as eleições municipais e autonômicas do dia 22 de março – a adotar três formas de rechaço: o abstencionismo radical, o voto na direita populista ou o protesto indignado nas praças.
Naturalmente, o ex-chefe do FMI e ex-candidato socialista à eleição presidencial francesa de 2012, acusado de agressão sexual e de tentativa de violação pela camareira de um hotel de Nova York no dia 14 de maio, goza de presunção de inocência até que a justiça estadunidense se pronuncie. Mas a atitude mostrada, na França, pelos líderes socialistas e muitos intelectuais de “esquerda”, amigos do acusado, precipitando-se diante de câmaras e microfones, para fazer imediatamente uma defesa incondicional de Strauss-Kahn, apresentando-o como o principal prejudicado, evocando complôs e “maquinações”, foi realmente vexatória.
Não tiveram nenhuma palavra de solidariedade ou de compaixão para com a suposta vítima. Alguns, como o ex-ministro socialista da Cultura, Jack Lang, em um reflexo machista, não hesitaram em diminuir a gravidade dos supostos fatos declarando que “afinal de contas, ninguém morreu”. Outros, esquecendo o sentido da palavra “justiça”, se atreveram a pedir privilégios e um tratamento mais favorável para seu poderoso amigo, pois, segundo eles, não se trata de “um acusado como outro qualquer”.
Tanta desfaçatez deu a impressão de que, no seio das elites políticas francesas, qualquer que seja o crime de que se acuse a um de seus membros, o coletivo reage com um respaldo articulado que mais parece uma cumplicidade mafiosa. Retrospectivamente, agora que ressurgem do passado outras acusações contra Strauss-Kahn de abuso sexual, muita gente se pergunta por que os meios de comunicação ocultaram esse traço da personalidade do ex-chefe do FMI. Por que os jornalistas, que não ignoravam as queixas de outras vítimas de assédio, jamais realizaram uma investigação de fundo sobre o tema. Por que se manteve os leitores na ignorância e se apresentou a este dirigente como “a grande esperança da esquerda” quando era óbvio que seu calcanhar de Aquiles podia, a qualquer momento, truncar sua ascensão.
Há anos, para conquistar a presidência, Strauss-Kahn recrutou brigadas de comunicadores de choque. Uma de suas missões consistia em impedir também que a imprensa divulgasse o luxuosíssimo estilo de vida do ex-chefe do FMI. Desejava-se evitar qualquer inoportuna comparação com a vida esforçada que levam milhões de cidadãos modestos lançados ao inferno social em parte precisamente pelas políticas dessa instituição.
Agora as máscaras caem. O cinismo e a hipocrisia surgem com toda sua crueza. E ainda que o comportamento pessoal de um homem não deva servir para prejulgar a conduta moral de toda sua família política, é evidente que contribui para se perguntar sobre a decadência da socialdemocracia. Ainda mais quando isso se soma a inúmeros casos, em seu seio, de corrupção econômica, e até de degeneração política (os ex-ditadores Ben Ali, da Tunísia, e Hosni Mubarak, do Egito, eram membros da Internacional Socialista!).
A conversão massiva ao mercado e à globalização neoliberal, a renúncia à defesa dos pobres, do Estado de bem estar e do setor público, a nova aliança com o capital financeiro e a banca, despojaram a social-democracia europeia dos principais traços de sua identidade. A cada dia fica mais difícil para os cidadãos distinguir entre uma política de direita e outra “de esquerda”, já que ambas respondem às exigências dos senhores financeiros do mundo. Por acaso, a suprema astúcia destes não consistiu em colocar a um “socialista” na direção do FMI com a missão de impor a seus amigos “socialistas” da Grécia, Portugal e Espanha os implacáveis planos de ajuste neoliberal?
Daí o cansaço popular. E a indignação. O repúdio da falsa alternativa eleitoral entre os dois principais programas, na verdade gêmeos. Daí os protestos nas praças: “Nossos sonhos não cabem em vossas urnas”. O despertar. O fim da inação e da indiferença. E essa exigência central”: “O povo quer o fim do sistema”.





fonte: http://www.cartamaior.com.br/





sábado, 6 de agosto de 2011

IMPUNIDADE PARA QUEM ?

 
Os velhos humanistas espanhóis propagavam em belo enunciado que as leis ao serem aplicadas deveriam ser flexíveis para os fracos, firmes para os fortes e implacáveis para os contumazes. Na realidade, dos nossos tristes e violentos dias, os fracos enfrentam o rigor das leis ou a própria barbárie em que eles estão inseridos enquanto que os poderosos e contumazes sempre conseguem usufruir da flexibilidade da legislação e das benécias do poder para consolidar a vergonhosa impunidade. Vez ou outra – tipo 1 em 1 milhão - é que um desses poderosos é condenado até para salvaguardar o próprio sistema e sua podridão! Em outro texto – antigo e bastante atual – o Pe. Antonio Vieira alertava que até Jesus tratava de forma diferenciada o ladrão pobre do ladrão rico... Para Dimas - pobre e por isso mesmo crucificado com Ele e que nada tinha a restituir - o perdão imediato em “Estarás comigo hoje na Casa do meu Pai!”... Para Zaqueu - rico não por trabalhar, mas por muito roubar - o perdão só veio mesmo quando ele se assumiu como ladrão e se comprometeu a restituir quadruplicado o que tinha roubado! O texto é de 1655, mas muito atual ao mostrar a metodologia dos “príncipes” que conjugam de todas as formas e modos o verbo roubar e costumam não restituir o dinheiro público vorazmente roubado e até ousam restituir aos cargos aqueles igualmente mal acostumados na conjugação do tal verbo. Segundo o referido Padre vão todos para o inferno e eu sempre fico a me perguntar se haverá braseiro suficiente pra tanto político cínico e ladrão... por isso prefiro lutar para que essas excelências delinqüentes sejam devidamente condenados, como manda a legislação em vigor no país, na experiência terrena mesmo!

Mas analisemos a situação concreta – e alternativas de reversão – de quem está sendo cotidianamente condenado de forma implacável, sem julgamento, sem conhecimento das motivações e vivenciando as penalidades, sem possibilidade de superação dos dramáticos momentos do cotidiano e sem mecanismos objetivos de ressocialização se já formalmente encarcerados. Existem milhões de seres humanos em nosso país (Alagoas ostenta os piores indicadores sociais) que nasceram em comunidades vulneráveis socialmente nas periferias e são condenados à miséria humana (que é infinitamente mais infame que a pobreza absoluta). Foram condenados a nascer em condições absolutamente precárias - e se não foram jogados numa calçada em noite fria ou numa lata de lixo – foram condenados a ter como chão para suas brincadeiras os esgotos a céu aberto... Foram condenados a morar num casebre sem lençóis limpos e perfumes delicados, compartilhando camas com adultos onde a sexualidade precoce é estimulada ou a maldita iniciação sexual é ditada pelo abuso e exploração na pedofilia... Foram condenados a não manusear a textura dos papéis de livros cheios de estórias e desenhos maravilhosos que poderiam até encantar e suavizar as suas próprias histórias dilacerantes de dias e dias de gritos, espancamento, alcoolismo e outras drogas, destruição de laços afetivos familiares e tantas outras situações angustiantes... Foram condenados a perderem seus nomes e a ingenuidade da identidade infantil, pois logo cedo foram “incluídos” como aviãozinho, fogueteiro, mula do pequeno e maldito tráfico de drogas – conduzido por pequenos bárbaros - para fomentar a imensa riqueza de uma canalha muito rica e poderosa, que vive muito distante das favelas e movimentam bilhões de dólares com as drogas psicotrópicas lícitas ou não... Foram condenados nos presídios imundos a se tornarem depósitos de AIDS, tuberculose, hepatites, hanseníase e a serem estuprados e violentados na sua dignidade pelos chefes dos presídios - que já barbarizados pela vida - criam verdadeiras “escolas” de crimes e perversidades para a grande maioria que lá está por ser pobre e por ter praticado pequenos delitos e acaba saindo do cárcere com “diploma” de assassino potencial.

Quais as opções a serem assumidas e implementadas por uma sociedade que se apresenta como moderna e civilizada? Quais os verdadeiros compromissos de uma sociedade que se apresenta como democrática, mas admite de forma cínica e dissimulada a tirania da miséria e do sofrimento dilacerador? Quais os verdadeiros Projetos para minimizar a Violência em Prevenção – educação, música, cultura, esporte, emprego digno – e Repressão – com condições dignas de trabalho e salários para os trabalhadores civis e militares da área de segurança pública – e na Recuperação e Ressocialização – do tratamento dos usuários de drogas psicotrópicas até a capacitação profissional e inserção econômica... Quais as Metas e Prazos e Cronogramas para a implementação das Ações, Projetos, Leis? Volto a insistir na necessidade de implementação de Políticas Públicas voltadas para intervenções globais em comunidades vulneráveis socialmente antes que a indigência social e a miséria humana aniquilem as possibilidades, de talento e vida digna, para milhões de crianças e jovens que podem acabar vivenciando apenas o triste e perverso decreto das gerações perdidas. Sempre lutei muito por tudo isso – com Projetos, Emendas ao Orçamento, Propostas Concretas – mesmo sendo incompreendida pela inocência de alguns e atacada pelos sórdidos vigaristas das gangues políticas que não aceitam conviver com quem não é domesticada pelo banditismo deles. Continuo lutando e acreditando que é possível resgatar o que de melhor e mais belo ainda possa existir especialmente nas crianças e jovens – em situações de risco - antes que a vida os condene à barbárie e se encarregue de afastá-los definitivamente da solidariedade, da bondade, da compaixão, do amor! Como dizia Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar!”



Email: heloisa.ufal@uol.com.br e Twitter: @_Heloisa_Helena









quarta-feira, 27 de julho de 2011

BANCO DO BRASIL

Quero aproveitar esse espaço para  dizer a opinião pública, que o chamado Banco do Brasil, não é de nenhum brasileiro. É um cabidaço de empregos dos caciques da política brasileira. O pior, o governo fascista de José Serra em São Paulo "vendeu" outra droga chmada "Nossa Caixa - Nosso Banco", para esse malfado Banco do Brasil, que faz publicidade até no programa do Milton Neves. Porque a indignação? porque como servidor efetivo do estado (professor de escola pública - prestei concurso e fui aprovado em outra carreira jurídica e me exonerei, por considerar que somente a Educação pode libertar um povo oprimido como o nosso). Enganei-me em relação ao espaço público,  mas continuei professor por considerar o ofício mais nobre que existe  e que o Serrismo, em São Paulo, ajudou a degradar. Do Governo Federal, não é necessário dizer nada  porque é a continuação do governo entreguista anterior, cuja política econômica é de exclusivo interesse dos grandes conglomerados econômicos e principalmente banqueiros. Mas de todos os banqueiros, o que mais representa essa odiosa classe é o Banco do Brasil, que se diz  banco do povo, mas sempre privilegiando com publicidade desnecessária a grande mídia e se dizendo fiador do esporte brasileiro. E o pior a sua administração é feita com arrogâqncia e prepotência, nada fazendo para solucionar as pendências geradas pelo Sistema Financeiro de Habitação e arrebentando o servidor público com o chamado "empréstimo" consignado. Isto aqui é um desabafo, que acredito que pouca gente possa ler, mas é importante que o povo brasileiro fique atento a uma Instituição, revestida de caráter social, que de social nada tem. É importante dizer que o Judiciário, na sua inércia, na edita Súmula Vinculante, para acabar com as inúmeras açoes revisionais contra essa Instituição que caminha impunemente, remunerando regiamente seus diretores e com aval de nossa desprigistiada classe política. O BB sem dúvida é o retrato mais cruel da política econômica imposta por FHC  e LULA. O Brasil, atrás apenas do HAITI, em exclusão social, vangloria-se de estar entre as principais potências econômicas do mundo. O HAITI é aqui, já disse alguém. E o Banco do  Brasil é o retrato acabado da política dos banqueiros reinantes no Brasi. E tudo isso olhando com complacência pelos demais poderes da República. Longe está a "prmavera brasileira", mas um dia ela virá.

domingo, 24 de julho de 2011

A BIOLOGIZAÇÃO DO SOCIAL

Mundo sofre novo 'desencantamento'



ROBERT KURZ



O mundo moderno define a relação das antigas sociedades com a natureza como irracional. A noção de que montanhas e rios, animais e plantas possuam alma parece à consciência moderna tão feérica quanto a idéia de que alguém possa ser enfeitiçado pela magia. Max Weber, como se sabe, falou por isso do "desencantamento do mundo" pela razão do Iluminismo, pela racionalidade da ciência e da técnica.



Ora, essa contraposição entre racionalidade moderna e irracionalidade pré-moderna no trato com a natureza é por demais simplista. Primeiro, as antigas sociedades não eram de todo irracionais em seu "processo de troca material com a natureza" (Marx), pois afinal tinham de prover seu sustento. Além disso, elas criaram artefatos admiráveis e legaram conhecimentos dos quais os próprios modernos ainda se valem. Segundo, a sociedade moderna não se pauta, por outro lado, pela estrita racionalidade face a objetos naturais. A escala em que o atual modo de produção destrói seus próprios fundamentos naturais de vida nos deixa em dúvida sobre a afirmação de Max Weber.



Deveríamos antes nos reportar a um "segundo desencantamento" do mundo pela sociedade moderna. Tal desencantamento, de fato, ultrapassa todos os anteriores, pois sua pretensão mágica é total e inconsiderada. A cisão dos sentimentos, das experiências sensíveis e dos sonhos pela razão abstrata deu origem a uma esfera de "irracionalismo" divorciada dos fins e idéias racionais _e isso tanto nos indivíduos como na sociedade em geral. A própria razão abstrata autonomizada é apenas em seus meios racional, não em seu fim.



Esse fim é a "economização" do homem e da natureza sob os ditames da moeda, que por sua vez não tem procedência racional, mas mágica. Não somente as relações sociais da modernidade são transpassadas pela moderna magia da moeda e seu irracional fim em si mesmo, mas também a própria ciência e técnica modernas. A racionalidade instrumental da consciência economizada corre portanto o eterno perigo de transformar-se em afetos irracionais.



Tal irracionalismo moderno não se dá a conhecer sob a mera roupagem de movimentos religiosos, mas muitas vezes sob a figura racional de idéias políticas de fachada e até mesmo como pretenso conhecimento científico.



Essa correlação é expressa da maneira mais nítida quando a sociedade humana e a história são reduzidas a objetos seminaturais. Ora, se a natureza é em si mais do que aparenta ser ao olhar objetivador do cientista natural, o homem também, por sua vez, é mais do que a simples natureza, pois de outro modo ele seria incapaz de concebê-la.



O reducionismo das ciências naturais só pode conhecer a natureza unilateralmente; a sociedade humana, todavia, é por ele inteiramente ignorada. A aparente objetividade da racionalidade científica vem a lume como selvagem irracionalismo, tão logo procure dissolver as relações sociais em fatores semifísicos ou semibiológicos.



Mas é exatamente a esse reducionismo que tende a ciência moderna. Incapaz de solucionar as questões "metafísicas", ela lançou a filosofia à lata de lixo da história das idéias. O filosófico e revolucionário século 18 ainda arquitetara uma reflexão crítica temerária, no fito de conferir certa legitimação à nascente sociedade capitalista. Já o século 19, como o "século das ciências naturais", buscou por seu turno aparar as garras da teoria social e aplacar a sua mordacidade com doutrinas pseudocientíficas. Numa época de miséria renitente e massificada, urgia emprestar ao capitalismo a dignidade de leis naturais para torná-lo invulnerável e arrebatá-lo ao contexto histórico. Assim, a economia tornou-se a "física" do mercado total e suas supostas leis eternas, e a sociologia passou a conceber a si mesma como a "biologia" das relações sociais, a fim de acobertar as contradições sociais da modernidade sob o manto de necessidades naturais.



A concorrência universal entre indivíduos, grupos sociais e nações, do modo como resultou do capitalismo, ganhou cada vez mais uma interpretação biológica com respaldo em tais ideologias "científicas". O conde de Gobineau, diplomata francês, criou as chamadas "raças" da humanidade e elaborou uma teoria sobre suas desigualdades "naturais" _evidentemente uma legitimação pseudocientífica do colonialismo europeu, cujo império sobre a população de cor cabia fundamentar com base na pretensa superioridade biológica da "raça branca".



Quando Darwin descobriu a história da evolução biológica, sua teoria da seleção natural na "luta pela existência" foi logo transposta à sociedade humana. O próprio Darwin não deixou de tomar partido. Em algumas de suas cartas, ele recriminava o então incipiente movimento sindical, uma vez que suas exigências por solidariedade atravancavam o processo de seleção natural e oneravam a sociedade com espécimes exangues e inaptos à concorrência.



Esse darwinismo social mantinha um vínculo obsceno com a "física" do mercado. Ao fim do século 19, somou-se a eles a chamada eugenia ou "higiene racial", que apregoava a transmissão hereditária de qualidades sociais. As camadas inferiores de criminosos e desclassificados ganharam a pecha de homens "hereditariamente inferiores", a quem se devia coibir a reprodução. No reverso da moeda figurava o aclamado "tipo vitorioso" do homem belo, forte e de "herança salutar".



Em exposições eugênicas realizadas na Alemanha, na Inglaterra e nos Estados Unidos, famílias inteiras desfilavam, à maneira de animais de criação, como exemplares de boa cepa e "puro sangue". Nem sequer o movimento operário escapou a tais desatinos. Karl Kautsky, o teórico social-democrata, escreveu com toda candura em prol da "higiene social", e os já remediados operários especializados fundamentavam seu repúdio ao "desleixado lumpemproletariado" com argumentos biológicos e eugênicos.



Nesse imbróglio pseudocientífico de ideologias que perpassou toda a sociedade ocidental ao redor da passagem do século ganharam paulatinamente destaque duas imagens sociobiológicas distintas. De um lado, desenvolveu-se um racismo social que infamava pessoas de cor, enfermos, criminosos, incapacitados, maltrapilhos etc. como "homens inferiores".



A construção da sociedade industrial cabia com exclusividade a trabalhadores brancos e fortes, e todo "lastro" supérfluo devia ser lançado por terra. Esse irracionalismo malevolente andava de mãos dadas com o menosprezo e a degradação das mulheres, a quem se irrogava certa "imbecilidade fisiológica".



De outro lado, começou a grassar um novo anti-semitismo, despido de bases religiosas. "O judeu" foi imaginado como o "super-homem negativo", como uma espécie de príncipe das trevas e o antípoda do níveo príncipe do trabalho.



Tal concepção maniqueísta reduziu a perniciosidade e as catástrofes da economia monetária à constituição biológica do "capital financeiro judeu", ao qual o dinheiro "bom" do venerável trabalho branco devia fazer frente. As leis anônimas e a-subjetivas do mercado mundial em expansão foram portanto traduzidas na insensatez da pretensa conjura global de uma "raça estrangeira".



Como todos sabem, o nacional-socialismo levou a dúplice ideologia biológica do "homem inferior" e do "super-homem negativo" à consequência extrema da aniquilação em escala industrial. Após os horrores de Auschwitz, ninguém mais desejou comprometer-se com tais idéias, as quais resvalaram então para o segundo plano histórico. No período da grande prosperidade que se seguiu à Segunda Guerra Mundial, elas lampejavam apenas como espectros de um passado infausto, que se acreditava banido para sempre. As ciências econômica e social, entretanto, foram na verdade depuradas apenas superficialmente da escória conceitual do biologismo e darwinismo sociais. Mais do que nunca, a economia política lançou mão de um tipo de ciência social avessa a "meias-luzes", arvorando-se em ciência seminatural "rigorosa".



Enquanto o crescimento e a evolução acenavam com uma perspectiva global de bem-estar, os lêmures do biologismo social permaneceram trancafiados no mundo inferior. Dessa perspectiva, a floração da sociologia crítica e do neomarxismo nos anos 60 e 70 foi ilusória, pois apenas repetia as idéias emancipatórias do passado e se achava incapacitada de sobreviver a períodos de bonança econômica. Quando a crise da economia fez seu regresso, a crítica social de esquerda desapareceu significativamente dos grandes palcos públicos nos países ocidentais. Por essa época, o que estava na berlinda era a teoria do desconstrutivismo pós-moderno calcada em Foucault, que bem convinha à especulação do capitalismo-cassino da era de Reagan e Thatcher. O mundo _inclusive o sistema de mercado_ parecia dissolver-se em "textos" com os quais se podia brincar a bel-prazer.



Mas no refúgio da jovial e neurastênica "sociedade do risco", como a batizou o sociólogo alemão Ulrich Beck _referindo-se ao desenvolvimento dos anos 80_, eclodiram as turbulências de um novo racismo. Desde então, o poder racista alastrou-se por todo mundo numa torrente de excessos sanguinolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugiados foram mortos friamente por maltas de radicais de direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera pública minora tais crimes como a obra de uns poucos jovens desclassificados. Na verdade, porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio de uma reviravolta nas condições atmosféricas mundiais.



Nas próprias fábricas de idéias sopram outros ventos. A última década viu o biologismo de uma nova "ciência natural" insinuar-se a passos de lobo no discurso acadêmico, que cada vez mais espelha a herança da moda lúdica e "pós-sociológica" do desconstrutivismo. À primeira vista, tudo indicava que a pesquisa genética conseguiria desbancar os despropósitos racistas com argumentos científicos. Pesquisadores como o geneticista molecular sueco Svante Pããbo provaram que homens das mais diversas nações, em virtude de suas sequências de DNA, podem ser geneticamente mais "aparentados" entre si do que com seus vizinhos de parede-meia. Mas tais constatações curvam-se hoje cada vez mais sob o peso de uma nova "biologização" da conduta social, para a qual, aliás, os próprios geneticistas se aprestam em fornecer a munição. O neurologista norte-americano Steven Pinker afirma que a língua é "congênita ao homem como a tromba ao elefante", e que por isso deve existir certo "gene gramatical". Para o ganhador do Prêmio Nobel Francis Crick, de San Diego, o próprio livre-arbítrio não passa de "reações neurológicas". Cientistas do Instituto Robert Koch, em Berlim, dizem ter encontrado um vírus que supostamente desencadeia a melancolia e é transmitido por gatos domésticos. E Dean Hammer, biólogo molecular norte-americano, reduz mais uma vez a homossexualidade ao gene Xq28, situado na extremidade do cromossomo sexual X.



Trata-se sempre, como sói acontecer, de hipóteses não comprovadas que dizem menos da natureza do que da preferência ideológica dos cientistas. Tais estudiosos são muitas vezes ingênuos sob a óptica social e assim talvez não percebam como suas pesquisas "puramente objetivas" sofrem a influência de correntes ideológicas que solapam a sociedade. Escusado observar que a redução da cultura e sociabilidade humanas ao padrão da biologia molecular confere argumentos à legitimação de um barbarismo renovado. Os cientistas sociais norte-americanos Richard Herrnstein e Charles Murray, no estudo intitulado "The Bell Curve", já haviam criado uma correlação entre "raça, genes e QI" que excluía, à maneira pseudobiológica, os negros americanos da "elite cognitiva". Em breve nos brindarão os malfadados cientistas com um "gene de criminalidade" ou um "gene da pobreza".



A descoberta de um destino social com lastros genéticos assenta como uma luva à política neoliberal da redução de custos. A nova disciplina acadêmica da "economia medicinal" fornece aos poucos a carta branca para que, por motivos de custos, os pobres, os enfermos e os incapacitados de países ocidentais sejam agraciados com o "auxílio à morte". Debates sobre o tema são propostos em plena luz do dia na Alemanha, na Holanda e em solo escandinavo. O filósofo australiano Peter Singer, cujos avós morreram nos campos de concentração alemães, propugna hoje a tese nacional-socialista de que os recém-nascidos defeituosos sejam imolados como "indignos de vida". Na China atual, tramita um projeto de lei em favor da legalização da eutanásia.



A tal brutalização sociodarwinista em escala mundial corresponde uma nova onda de anti-semitismo em todos os quadrantes do globo. Meio século após Auschwitz, sinagogas voltam a ser queimadas na Alemanha; do Atlântico aos Urais e até no Japão, prospera a campanha difamatória contra as comunidades judaicas; e, para rematar, Louis Farrakhan, o líder dos "Black Muslims" nos Estados Unidos, exercita-se na difamação em tiradas anti-semitas. Todos os grupos sociais, inclusive os movimentos de direitos civis, sucumbem cada dia mais a argumentos biológicos na batalha cruenta da concorrência, no propósito de se diferenciarem da humanidade. Sob o influxo da globalização do capital e com base na argumentação acadêmica dos geneticistas, talvez paire sobre nós a ameaça de um biologismo "universalista" que considera todas pessoas ineptas à concorrência dentro da sociedade monetária como "indivíduos inferiores" e que, simultaneamente, deseja imputar as futuras catástrofes da economia de mercado a uma "conjuração judia".



O neoliberalismo, com sua pseudofísica ideológica das leis de mercado, soltou as peias de todos os demônios do barbarismo moderno e, assim, remontou à irracionalidade do "cientificismo social" do século 19. A naturalização da economia, porém, acarreta como consequência lógica a bestialização das relações sociais. Os mentores neoliberais não respondem apenas pelo advento do fundamentalismo, mas também pelo atual regresso ao darwinismo social e ao anti-semitismo.













Fonte: www.uol.com.br











sexta-feira, 22 de julho de 2011

quinta-feira, 16 de junho de 2011

ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012

ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2012



Embora as especulações comecem a aparecer, o quadro já está definido. A Prefeita Darcy Vera já é candidata a reeleição, com apoio do PMDB dos Rossi. Todos já confortavelmente instalados nos poderes municipal, estadual e federal. No PSDB apesar de Nogueirinha dizer que pode ser. Não é. Graças ao nome do pai e sua habilidade como homem de situação e esperteza nas alianças com o poder econômico, encontra-se satisfeito onde está. Líder do PSDB, na Câmara Federal e que alguns chamam de Líder da Oposição. Aliás, oposição que há muito não existe no País. E não poderia ser de outra forma. O Governo Lula seguiu à risca o modelo neoliberal de F.H.C., seduzindo o mercado, principalmente os banqueiros nacionais e internacionais. Mais do que FHC, um intelectual, o presidente operário faz palestras para grandes empresários e até aponta soluções. Fiador da política econômica, Antonio Palocci, foi tão cortejado e cultuado pelo mundo globalizado e pelos setores liberais, que defendem o mercado como solução para todos os males. As malfeitorias todas são absorvidas por uma sociedade, que se contenta com o chamado “arroz e feijão”. Educação, saúde, segurança, habitação, desmatamento não têm muita importância em eleições, principalmente quando são nacionais. Não por acaso, há dezesseis anos o presidencialismo brasileiro vive sem traumas. Todos felizes: desde o tubarão até o mais simples trabalhador, que está feliz na construção civil, com prazos de financiamento de imóveis ampliados para 30 anos. E um carro OK na garagem com razoável prazo de 60 meses para pagar. A cultura da corrupção integra a paisagem brasileira. Afinal, “todos são corruptos”, justificam. Voltando às eleições municipais, o candidato competitivo com Darcy ainda é Welson Gasparini .é Candidatíssimo e nome ainda forte, por seu retrospecto de austeridade, honestidade e ética. O Partido dos Trabalhadores é dominado por Antonio Palocci, que deverá lançar um candidato apenas para o “inglês ver”. Também está instalado no atual governo municipal e sua queda no Governo Federal, não abalará seus interesses no âmbito municipal. A Darcy é a candidata ideal, mesmo porque incapaz de alçar vôos maiores e também não pretende. Os atiradores de ocasião, não encontrarão partidos disponíveis.O Gandini, um bom juiz e ótimo cidadão, já foi abandonado pelas feras. A atual prefeita abrigou os “partidos de aluguel”, no elástico e confortável cobertor municipal. O PV e PC do B que são partidos mais sérios, não têm autonomia de para lançar candidatos próprios. Estão presos aos governos estadual, federal e municipal. E adoram. Somente o PSOL poderá lançar candidatos, na tentativa de obter representação na Câmara Municipal, eventualmente coligado majoritariamente com PSTU e PCB e na proporcional, se continuar existindo, já que os votos de legenda em eleição proporcional são importantes. O quadro é este e pouca novidade existe no horizonte, além da propaganda eleitoral sob forma de publicidade oficial, que já começa infestar a cidade. É o quadro. O resto é mera especulação e notícias fabricadas por aqueles que adoram um motivo para existirem no mundo real.







Antonio Calixto – advogado e professor.





Para o jornal “Enfim” – Ribeirão Preto.

CAI A TESE DO 'PIOR DO QUE ESTÁ NÃO FICA"



Cai por terra a tese do “pior que está não fica”




No final de maio a Câmara dos deputados votou e aprovou o novo Código Florestal brasileiro, matéria polêmica que dá licença ao desmatamento e que contou com forte lobby do agronegócio em seu desfecho. Para uma parcela significativa da população de São Paulo, que escolheu votar no palhaço Tiririca, fica a lição que eleição é coisa séria e que as coisas podem piorar, sim
Ricardo Alvarez


Há tempos que o estado de São Paulo vem elegendo deputados bem votados, mas descartáveis. A salada político-partidária inclui neofascistas, pouco éticos, descompromissados e exóticos e, nesta mesma ordem, Enéas, Maluf, Clodovil e Tiririca surgem como exemplos. O que há em comum entre eles? A montanha de votos conseguida caracterizada por uma forma de protesto difusa contra a política eleitoral partidária.

É verdade que candidatos deste naipe existem e são eleitos também em outros estados, mas São Paulo chama mais a atenção pelo peso político e populacional. A capital possui mais de 11,2 milhões de habitantes, quase o dobro da segunda colocada, o Rio de Janeiro, com cerca de 6,3 milhões de habitantes. O estado de São Paulo ultrapassou os 41 milhões de habitantes, mais que o dobro do segundo colocado, Minas Gerais, com 19,5 milhões. Somos 21,6% da população total do país, mas apesar da importância, temos nos notabilizado pelos exemplos negativos nas eleições.



Enéas queria a construção de uma bomba atômica e defendia a aplicação de costumes militares para a sociedade civil. Maluf tem longa história de péssimos serviços prestados á democracia, passando pela participação em governos militares e por sua fama de distância consentida da ética na política. Clodovil chamou a atenção pela decoração de seu gabinete na Câmara e pelo desmatamento em suas terras no litoral paulista, derrubando mata nativa e ganhando multa. Sequer defendia a causa homossexual.

Os três, muito diferentes em suas origens e histórias de vida, ganharam mandatos canalizando o voto do eleitor insatisfeito com o atual estado de coisas. O repúdio chega a ser compreensível: escândalos de corrupção, malversação de verbas públicas e tráfico de influência pipocam continuamente e não são acompanhados da devida punição apesar das provas, que incluem até filmagens.

Recentemente o ministro Antônio Palocci, chefe da Casa Civil, caiu por conta do enriquecimento acelerado de seu patrimônio sem as devidas explicações. Apesar da perda do posto, é pouco provável que se efetive uma investigação séria sobre o caso e alguma medida seja tomada em favor da transparência e da ética pública. O procurador-geral da República já lhe passou atestado de boa conduta, restaria uma CPI. Porém, neste caso, é preciso entender que muito dos acusadores, que dispararam suas flechadas inquisitórias, estão mais preocupados com o desgaste político do governo federal do que efetivamente discordar das perniciosas relações entre a gestão pública e os interesses privados, em especial os partidos mais conservadores e de direita, como o PSDB, DEM e seu entorno.

No mesmo momento o vereador Netinho (PCdoB) em São Paulo é acusado pela Corregedoria da Câmara Municipal de falsificar documentos (notas frias) na comprovação de gastos do seu gabinete. Para o órgão as provas são incontestáveis, mas apesar delas, o vereador é absolvido em sessão plenária, mesmo com os 18 votos favoráveis à investigação, quando eram necessários 28.

Não bastam filmes gravados e provas materiais concretas para romper o corporativismo reinante no miolo do poder público, uma vez que o raciocínio predominante é o da septicemia generalizada, cujas investigações podem alcançar membros apodrecidos em suas funções públicas, mas profundamente vivos e atuantes na fisiologia política. É a velha máxima de que “sabe-se como começa uma investigação, mas não como termina”. A que se fazer justiça aos parlamentares que se posicionam pela ética na política independentemente do governo de ocasião, mas estes são avis rara.

A reação imediata da população, em especial a dos eleitores, é o completo alheamento com as eleições e a política em geral. A eleição do palhaço Tiririca com seus 1,3 milhões de votos, ou 6,35% do eleitorado do estado de São Paulo, é muito significativa neste sentido. O tamanho do repúdio assusta pela dimensão de sua votação, mas na prática pouco representa no interior do parlamento. Quais deputados federais ou partidos políticos olham para o palhaço e enxergam nele a síntese do descontentamento popular? Esta relação não existe e nem mesmo tem sentido, uma vez que enxurrada de votos não foi o resultado de uma ação coordenada de um movimento ou posição política, foi apenas um deboche institucional canalizado na pessoa errada. Pronto, morreu ai. O caudal de votos deveria dotar o seu protagonista de imensa força política dentro do parlamento, afinal de contas sua representatividade é bastante significativa. Deveria ser assim, mas não é.

Se este voto de protesto não se transforma efetivamente em protesto, pouco se aproveita do muito do que nele foi depositado. Vejamos o caso da votação do Código Florestal brasileiro. Tiririca votou favorável às mudanças, junto a outros 409 deputados. 63 disseram não.

Aprovada a matéria na câmara dos deputados fica a pergunta: será que os 1,3 milhões de paulistas que decidiram protestar votando no palhaço defendem as mudanças no Código? Parece-nos que não. Recente pesquisa do Datafolha mostra que 95% das pessoas entrevistadas repudiam a ocupação de áreas de preservação ambiental pela agricultura e pecuária. Quantos destes seriam eleitores de Tirirca? Provavelmente parcela muito significativa.

Como fica o protesto quando o candidato vota contrário ao que defende seu eleitor?

A bancada do agronegócio no parlamento nacional conta com cerca de 200 deputados e 18 senadores, segundo levantamento do MST. Os latifundiários que desejam desmatar, ficar livre de multas, contratar trabalho escravo, expulsar o pequeno produtor de suas terras, grilar novos lotes, dentre outras ações predatórias, prestam muita atenção em quem votam, quais serão os candidatos que receberão apoio financeiro e estrutura para sua campanha. As entidades ruralistas escolhem minuciosamente dentre seus pares, quem os representará no parlamento. O discurso de que ninguém presta e todo mundo é igual, portanto vote em qualquer tranqueira, lá não cola.
Isto não acontece apenas entre ruralistas. Outros setores organizados da sociedade também elegem seus fiéis representantes, como os banqueiros e financistas, industriais, comerciantes, entre outros, formando bancadas de interesses, como a bancada evangélica, bancada da bala, etc.
Este é um dos motivos das dificuldades em se avançar politicamente na solução de vários problemas no Brasil. A maior bancada no parlamento brasileiro deveria ser a dos pobres e miseráveis, mas estes estão pouco organizados para a tarefa de defesa de seus interesses nesta esfera da política nacional, apesar de seu peso e força no conjunto da população.
Fica a lição de que o parlamento não é a panaceia dos males que nos afligem, mas votar em qualquer um em nada ajuda. Recordar é viver. Lembremo-nos do bordão central da campanha de Tiririca em 2010: “Vote por Tiririca. Pior que tá não fica”. Fica sim. Os biomas e a sociedade como um todo vão pagar por esta fatura ambiental de longo prazo, sejam eles eleitores conscientes do voto que deram, sejam eles àqueles que escolheram a patética figura de um palhaço que, dentro do parlamento, vota sem nenhuma graça.

Ricardo Alvarez

Geógrafo, é professor e editor do site Controvérsia







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Controvérsia - www.controversia.com.br



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Assunto: Política - [12/06/2011
21h] - texto nº 9115

Autor: Ricardo Alvarez

Fonte: Controvérsia



Cai por terra a tese do “pior que está não fica”



No final de maio a Câmara dos deputados votou e aprovou o novo Código Florestal brasileiro, matéria polêmica que dá licença ao desmatamento e que contou com forte lobby do agronegócio em seu desfecho. Para uma parcela significativa da população de São Paulo, que escolheu votar no palhaço Tiririca, fica a lição que eleição é coisa séria e que as coisas podem piorar, sim





Há tempos que o estado de São Paulo vem elegendo deputados bem votados, mas descartáveis. A salada político-partidária inclui neofascistas, pouco éticos, descompromissados e exóticos e, nesta mesma ordem, Enéas, Maluf, Clodovil e Tiririca surgem como exemplos. O que há em comum entre eles? A montanha de votos conseguida caracterizada por uma forma de protesto difusa contra a política eleitoral partidária.

É verdade que candidatos deste naipe existem e são eleitos também em outros estados, mas São Paulo chama mais a atenção pelo peso político e populacional. A capital possui mais de 11,2 milhões de habitantes, quase o dobro da segunda colocada, o Rio de Janeiro, com cerca de 6,3 milhões de habitantes. O estado de São Paulo ultrapassou os 41 milhões de habitantes, mais que o dobro do segundo colocado, Minas Gerais, com 19,5 milhões. Somos 21,6% da população total do país, mas apesar da importância, temos nos notabilizado pelos exemplos negativos nas eleições.

Enéas queria a construção de uma bomba atômica e defendia a aplicação de costumes militares para a sociedade civil. Maluf tem longa história de péssimos serviços prestados á democracia, passando pela participação em governos militares e por sua fama de distância consentida da ética na política. Clodovil chamou a atenção pela decoração de seu gabinete na Câmara e pelo desmatamento em suas terras no litoral paulista, derrubando mata nativa e ganhando multa. Sequer defendia a causa homossexual.

Os três, muito diferentes em suas origens e histórias de vida, ganharam mandatos canalizando o voto do eleitor insatisfeito com o atual estado de coisas. O repúdio chega a ser compreensível: escândalos de corrupção, malversação de verbas públicas e tráfico de influência pipocam continuamente e não são acompanhados da devida punição apesar das provas, que incluem até filmagens.

Recentemente o ministro Antônio Palocci, chefe da Casa Civil, caiu por conta do enriquecimento acelerado de seu patrimônio sem as devidas explicações. Apesar da perda do posto, é pouco provável que se efetive uma investigação séria sobre o caso e alguma medida seja tomada em favor da transparência e da ética pública. O procurador-geral da República já lhe passou atestado de boa conduta, restaria uma CPI. Porém, neste caso, é preciso entender que muito dos acusadores, que dispararam suas flechadas inquisitórias, estão mais preocupados com o desgaste político do governo federal do que efetivamente discordar das perniciosas relações entre a gestão pública e os interesses privados, em especial os partidos mais conservadores e de direita, como o PSDB, DEM e seu entorno.

No mesmo momento o vereador Netinho (PCdoB) em São Paulo é acusado pela Corregedoria da Câmara Municipal de falsificar documentos (notas frias) na comprovação de gastos do seu gabinete. Para o órgão as provas são incontestáveis, mas apesar delas, o vereador é absolvido em sessão plenária, mesmo com os 18 votos favoráveis à investigação, quando eram necessários 28.

Não bastam filmes gravados e provas materiais concretas para romper o corporativismo reinante no miolo do poder público, uma vez que o raciocínio predominante é o da septicemia generalizada, cujas investigações podem alcançar membros apodrecidos em suas funções públicas, mas profundamente vivos e atuantes na fisiologia política. É a velha máxima de que “sabe-se como começa uma investigação, mas não como termina”. A que se fazer justiça aos parlamentares que se posicionam pela ética na política independentemente do governo de ocasião, mas estes são avis rara.

A reação imediata da população, em especial a dos eleitores, é o completo alheamento com as eleições e a política em geral. A eleição do palhaço Tiririca com seus 1,3 milhões de votos, ou 6,35% do eleitorado do estado de São Paulo, é muito significativa neste sentido. O tamanho do repúdio assusta pela dimensão de sua votação, mas na prática pouco representa no interior do parlamento. Quais deputados federais ou partidos políticos olham para o palhaço e enxergam nele a síntese do descontentamento popular? Esta relação não existe e nem mesmo tem sentido, uma vez que enxurrada de votos não foi o resultado de uma ação coordenada de um movimento ou posição política, foi apenas um deboche institucional canalizado na pessoa errada. Pronto, morreu ai. O caudal de votos deveria dotar o seu protagonista de imensa força política dentro do parlamento, afinal de contas sua representatividade é bastante significativa. Deveria ser assim, mas não é.

Se este voto de protesto não se transforma efetivamente em protesto, pouco se aproveita do muito do que nele foi depositado. Vejamos o caso da votação do Código Florestal brasileiro. Tiririca votou favorável às mudanças, junto a outros 409 deputados. 63 disseram não.

Aprovada a matéria na câmara dos deputados fica a pergunta: será que os 1,3 milhões de paulistas que decidiram protestar votando no palhaço defendem as mudanças no Código? Parece-nos que não. Recente pesquisa do Datafolha mostra que 95% das pessoas entrevistadas repudiam a ocupação de áreas de preservação ambiental pela agricultura e pecuária. Quantos destes seriam eleitores de Tirirca? Provavelmente parcela muito significativa.

Como fica o protesto quando o candidato vota contrário ao que defende seu eleitor?

A bancada do agronegócio no parlamento nacional conta com cerca de 200 deputados e 18 senadores, segundo levantamento do MST. Os latifundiários que desejam desmatar, ficar livre de multas, contratar trabalho escravo, expulsar o pequeno produtor de suas terras, grilar novos lotes, dentre outras ações predatórias, prestam muita atenção em quem votam, quais serão os candidatos que receberão apoio financeiro e estrutura para sua campanha. As entidades ruralistas escolhem minuciosamente dentre seus pares, quem os representará no parlamento. O discurso de que ninguém presta e todo mundo é igual, portanto vote em qualquer tranqueira, lá não cola.

Isto não acontece apenas entre ruralistas. Outros setores organizados da sociedade também elegem seus fiéis representantes, como os banqueiros e financistas, industriais, comerciantes, entre outros, formando bancadas de interesses, como a bancada evangélica, bancada da bala, etc.

Este é um dos motivos das dificuldades em se avançar politicamente na solução de vários problemas no Brasil. A maior bancada no parlamento brasileiro deveria ser a dos pobres e miseráveis, mas estes estão pouco organizados para a tarefa de defesa de seus interesses nesta esfera da política nacional, apesar de seu peso e força no conjunto da população.

Fica a lição de que o parlamento não é a panaceia dos males que nos afligem, mas votar em qualquer um em nada ajuda. Recordar é viver. Lembremo-nos do bordão central da campanha de Tiririca em 2010: “Vote por Tiririca. Pior que tá não fica”. Fica sim. Os biomas e a sociedade como um todo vão pagar por esta fatura ambiental de longo prazo, sejam eles eleitores conscientes do voto que deram, sejam eles àqueles que escolheram a patética figura de um palhaço que, dentro do parlamento, vota sem nenhuma graça.

Ricardo Alvarez

Geógrafo, é professor e editor do site Controvérsia





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sexta-feira, 10 de junho de 2011

MUDANÇA CLIMÁTICA FREIA PRODUÇÃO DE GRÃOS



Há trinta anos a mudança climática freia a produção mundial de grãos

Os efeitos negativos do aquecimento global sobre a agricultura não são uma perspectiva distante para o futuro, mas sim uma realidade do presente. Em resumo, essa foi a principal mensagem de um estudo conduzido por diversos pesquisadores americanos e publicado na sexta-feira (6) pela revista “Science”.


stéphane Foucart






Ativistas usam máscaras de líderes políticos mundiais durante protesto contra o aquecimento global, na Alemanha

Ao conduzir uma análise retrospectiva da produção mundial dos três grãos mais importantes (milho, trigo, arroz), bem como da soja, David Lobell (Universidade de Stanford, Califórnia) e seus coautores sugerem que a evolução das temperaturas e das chuvas entre 1980 e 2008 tenha causado a redução do rendimento médio mundial dos cultivos de trigo e de milho, em respectivamente 5,5% e 3,8%.

Esses números, apesar de elevados, não devem ser interpretados com uma queda nítida de produtividade, mas mais como uma perda de ganhos, no conjunto do período estudado, de cerca de 23 milhões de toneladas para o milho e 33 milhões de toneladas para o trigo. A evolução do clima há trinta anos de forma geral não teve impacto negativo sobre as culturas de soja e de arroz.

“Trata-se de um trabalho importante, pois é a primeira vez que uma avaliação como essa é tentada em nível mundial”, acredita Jean-François Soussana, diretor científico para o meio ambiente no Instituto Nacional da Pesquisa Agronômica (INRA). Isso é ainda mais importante pelo fato de que as quatro culturas analisadas estão, como dizem os pesquisadores, na base de cerca de “75% das calorias consumidas diretamente ou indiretamente pela humanidade”.

O exercício tentado é complexo: no período analisado, os climas regionais certamente evoluíram, mas também as práticas agrícolas, as variedades semeadas, a quantidade e a natureza dos insumos (pesticidas, adubos), etc. David Lobell e seus coautores observaram, região por região, a evolução das chuvas e das temperaturas durante a estação vegetativa. Em seguida eles utilizaram um modelo de resposta de cada cultura a essas mudanças, para extrair das variações de produção a parte imputável ao clima.
Os resultados variam muito em função das culturas e das regiões. A América do Norte foi a mais poupada, uma vez que o rendimento não foi afetado pelo clima em trinta anos. Já a China e o Brasil viram o rendimento do cultivo de milho perder entre 5% e 10%; a Índia e a França lamentam um prejuízo de cerca de 5% sobre o rendimento de suas culturas de trigo – de qualquer forma menos que a Rússia, que, de maneira contraintuitiva, perdeu 15% de rendimento sobre esse grão. A soja é a mais afetada no Brasil, que, nesse campo, perdeu cerca de 5% de rendimento sobre essa leguminosa, muito importante para a produção animal.
A meu ver, é um dos principais ensinamentos desses trabalhos: perdas de rendimento são constatadas em toda parte, sem distinção de latitude”, diz Soussana, coautor do último relatório do Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre a Evolução do Clima (GIEC). “Até agora, pensávamos que os efeitos negativos da mudança climática seriam importantes sobretudo para as culturas da zona tropical. Mas não parece ser o caso.”
Embora seja baseado na análise estatística de dados agronômicos e climáticos que às vezes sofrem de grandes incertezas, especialmente nos países em desenvolvimento, o estudo de Lobell é corroborado, localmente, por análises mais delicadas conduzidas em território francês. Esses trabalhos, dirigidos pela agrônoma Nadine Brisson (Unidade Agroclim, INRA) e publicados no final de 2010 na revista “Field Crops Research”, são “de maneira geral coerentes” com aqueles que acabam de ser divulgados na “Science”, segundo Soussana.

ssa análise observou na França uma estagnação no rendimento do trigo desde meados dos anos 1990. No entanto, este não parava de aumentar desde o fim da Segunda Guerra Mundial.



Uma das causas apresentadas pelos pesquisadores franceses era que os efeitos do aquecimento global começavam a ser sentidos na agricultura cerealista desde os anos 1990, levando a uma perda estimada entre 20 e 50 quilos de trigo por hectare ao ano.



Essa constatação pode ser extrapolada, segundo os autores, para boa parte da Europa. “A perda de rendimento devido à degradação das condições climáticas se soma a outros fatores, puramente agronômicos, como mudanças na rotação das culturas ou a utilização de fertilizantes”, explica Soussana. “Esses efeitos negativos são, no entanto, compensados pelos lucros obtidos graças à melhoria genética das variedades que permite ganhar, ainda hoje, cerca de 100 quilos de trigo por hectare ao ano”. Isso explica a estagnação observada, uma vez que os progressos da ciência agronômica são parcialmente “apagados” pelo aquecimento global e pelos episódios de seca.
Seriam os efeitos do clima sobre a agricultura desde 1980 capazes de permitir que se preveja o que acontecerá nas próximas décadas? “Na verdade, não, pois isso também será função do esforço de adaptação que será feito”, responde Soussana.



Tradução: Lana Lim

(Extraído do Boletim Controvérsia - Editado por Ricardo Alvarez







sexta-feira, 3 de junho de 2011

VOCÊ QUER SER PROFESSOR ?

Você é louca!” “É tão inteligente, sempre gostou de estudar, por que desperdiçar tudo com essa carreira?” Ligia Reis (foto a dir.), de 23 anos, ouviu essas e outras exclamações quando decidiu prestar vestibular para Letras, alimentada pela ideia de se tornar professora na Educação Básica. Nas conversas com colegas mais velhos de estágio, no curso de História, Isaías de Carvalho, de 29 anos, também era recebido com comentários jocosos. “Vai ser professor? Que coragem!” Estudante de um colégio de classe média alta em São Paulo, Ana Sordi (foto a esq.), de 18 anos, foi a única estudante de seu ano a prestar vestibular para Pedagogia. E também ouviu: “Você vai ser pobre, não vai ter dinheiro”. Apesar das críticas, conselhos e reclamações, Ligia, Isaías e Ana não desistiram. No quinto ano de Letras na USP, Ligia hoje trabalha como professora substituta em uma escola pública de São Paulo. Formado em História pela Unesp e no quarto ano de Pedagogia, Isaías é professor na rede estadual na cidade de São Paulo. No segundo ano de Pedagogia na USP, Ana acompanha duas vezes por semana os alunos do segundo ano na Escola Viva.


Quando os três falam da profissão, é com entusiasmo. Pelo que indicam as estatísticas, Ligia, Isaías e Ana fazem parte de uma minoria. Historicamente pressionados por salários baixos, condições adversas de trabalho e sem um plano de carreira efetivo, cursos de Pedagogia e Licenciatura – como Português ou Matemática – são cada vez menos procurados por jovens recém-saídos do Ensino Médio. Em sete anos, nos cursos de formação em Educação Básica, o núsmero de matriculados caiu 58%, ao passar de 101.276 para 42.441.
Atrair novas gerações para a carreira de professor está se firmando como um dos maiores desafios a ser enfrentado pela Educação no Brasil. Não por acaso, a valorização do educador é uma das principais metas do novo Plano Nacional de Educação. Uma olhadela na história da educação mostra que não é de hoje que a figura do professor é institucionalmente desvalorizada. “Há textos de governadores de província do século XIX que já falavam que ia ser professor aquele que não sabia ser outra coisa”, explica Bernardete Gatti, da Fundação Carlos Chagas, coordenadora da pesquisa Professores do Brasil: Impasses e desafios. No entanto, entre as décadas de 1930 e 1950, a figura do professor passou a ter um valor social maior. Tal perspectiva, porém, modificou-se novamente a partir da expansão do sistema de ensino no Brasil, que deixou de atender apenas a elite e passou a buscar uma universalização da educação. Desordenada, a expansão acabou aligeirando a formação do professor, recrutando muitos docentes leigos e achatando brutalmente os salários da categoria como um todo.


Raio X


Encomendada pela Unesco, a pesquisa Professores do Brasil: Impasses e desafios revelou que, em geral, o jovem que procura a carreira de professor hoje no Brasil é oriundo das classes mais baixas e fez sua formação na escolas públicas. Segundo dados do questionário socioeconômico do Enade de 2005, 68,4% dos estudantes de Pedagogia e de Licenciatura cursaram todo o Ensino Médio no setor público. “De um lado, você tem uma -implicação muito boa. São jovens que estão procurando ascensão social num projeto de vida e numa profissão que exige uma formação superior. Então, eles vêm com uma motivação muito grande.”
É o caso de Fernando Cardoso, de 26 anos. Professor auxiliar do quinto ano do Ensino Fundamental da Escola Viva, Fernando é a primeira pessoa de sua família a completar o Ensino Superior. Sua primeira graduação, em Educação Física, foi bastante comemorada pela família de Mogi-Guaçu, interior de São Paulo. O mesmo aconteceu quando ele resolveu cursar a segunda faculdade, de Pedagogia.
Entretanto, pondera Bernardete, grande parte desse contingente também chega ao Ensino Superior com certa “defasagem” em sua formação. A pesquisadora cita os exemplos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que revela resultados muito baixos, especialmente no que diz respeito ao domínio de Língua Portuguesa. “Então, estamos recebendo nas licenciaturas candidatos que podem ter dificuldades de linguagem e compreensão de leitura.”
Segundo Bernardete, esse é um efeito duradouro, uma vez que a universidade, de forma geral, não consegue suprir essas deficiências. Para Isaías Carvalho, esta é uma visão elitista. “Muitos professores capacitados ingressam nas escolas e estão mudando essa realidade. Esse discurso acaba jogando toda a culpa nos professores”, reclama.
Desde 2006, Isaías Carvalho trabalha como professor do Ensino Fundamental II e Ensino Médio em uma escola estadual em São Paulo. Oriundo de formação em escolas públicas, Isaías também é formado pelo Senai e chegou a trabalhar como técnico em refrigeração. Só conseguiu passar pelo “gargalo do vestibular” por causa do esforço de alguns professores da escola em que estudava na Vila Prudente, zona leste de São Paulo. Voluntariamente, os professores davam aulas de reforço pré-vestibular de graça para os alunos, nos fins de semana. “Os alunos se organizavam para comprar as apostilas”, lembra. Foi durante uma participação como assistente de um professor na escola de japonês em que estudava que Antônio Marcos Bueno, de 21 anos, resolveu tornar-se professor. “Um sentimento único me tocou”, exclama. Em busca do objetivo, saiu de Manaus, onde morava, e mudou-se para São Paulo. Depois de quase dois anos de cursinho pré-vestibular, Antônio Marcos está prestes a se mudar para a cidade de Assis, no interior do Estado, onde vai cursar Letras, com habilitação em japonês.
Entretanto, essa visão enraizada na cultura brasileira de que ser professor é uma missão ou vocação – e não uma profissão – acaba contribuindo para a desvalorização do profissional. “Socialmente, a representação do professor não é a de um profissional. É a de um cuidador, quase um sacerdote, que faz seu trabalho por amor. Claro que todo mundo tem de ter amor, mas é preciso aliar isso a uma competência específica para a função, ou seja, uma profissionalização”, resume Bernardete.


Contra a corrente

Ainda assim, o idealismo e a vontade de mudar o mundo ainda permanecem como fortes componentes na hora de optar pelo magistério. Anderson Mizael, de 32 anos, teve uma trajetória diferente da maioria dos seus colegas da PUC-SP. Criado na periferia de São Paulo, Anderson sempre estudou em escolas públicas. Adulto, trabalhou durante cinco anos como designer gráfico antes de resolver voltar a estudar. Bolsista do ProUni, que ajuda a financiar a mensalidade, Anderson é um dos poucos do curso de Letras que almejam a posição de professor de Literatura. “Eu tenho esse lado social da profissão. O ensino público está precisando de bons professores, de gente nova”, explica ele, que acaba de conseguir o primeiro estágio em sala de aula, em uma escola no Campo Limpo, zona sul da capital. Ana, que hoje trabalha em uma escola de elite, sonha em dar aula na rede pública. “São os que mais precisam.” “Eu sempre quis ser professora, desde criança”, arremata Ligia.
A empolgação é atenuada pela realidade da escola – com as já conhecidas salas lotadas, falta de material e muita burocracia. Ligia Reis reclama. “Cheguei, ganhei um apagador e só. Não existe nenhum roteiro, nenhum amparo”, conta. “Às vezes, você é um ótimo professor, tem várias ideias, mas a escola não ajuda em nada”, desabafa. Ligia também conta que, para grande parte de seus colegas de graduação, dar aula é a última opção. “A maioria quer ser tradutor ou trabalhar em editoras. É um quadro muito triste.”
Como constatou Ligia, de forma geral, jovens oriundos de classes mais favorecidas, teoricamente com uma formação mais sólida e maior bagagem cultural, acabam procurando outros mercados na hora de escolher uma profissão. “Eles procuram carreiras que oferecem perspectivas de progresso mais visíveis, mais palpáveis”, explica Bernardete. Um dos motivos que os jovens dizem ter para não escolher a profissão de professor é que eles não veem estímulo no magistério e os salários são muito baixos, em relação a outras carreiras possíveis. “Meu avô disse para eu prestar Farmácia, que estava na moda”, lembra Ana.
A busca pela valorização da carreira de professor passa também, mas não somente, por políticas de aumento salarial. Além de pagar mais, é preciso que o magistério tenha uma formação mais sólida e, principalmente, um plano de carreira efetivo. “Um plano em que o professor sinta que pode progredir salarialmente, a partir de alguns quesitos. Mas que ele, com essa dedicação, possa vir a ter uma recompensa salarial forte”, conclui a pesquisadora.
Anderson, Ligia, Ana, Isaías, Antônio e Fernando torcem para que essa perspectiva se torne realidade. “Eu acho que, felizmente, as pessoas estão começando a tomar consciência do papel do professor. É uma profissão que, no futuro, vai ser valorizada”, torce Anderson. “É uma profissão, pessoalmente, muito gratificante.” “Às vezes, eu chego à escola morta de cansaço, mas lá esqueço tudo. É muito gostoso”, conta Ana.



fonte: http://www.cartacapital.com.br/

quinta-feira, 5 de maio de 2011

OSAMA BIN LADEN. O QUE PENSA FIDEL ?




O assassinato de Osama Bin Laden

• AQUELES que se ocupam desses temas sabem que, em 11 de setembro de 2001, nosso povo se solidarizou com o dos Estados Unidos e deu a modesta cooperação que podíamos oferecer no campo da saúde às vítimas do brutal atentado às torres gêmeas do World Trade Center de Nova York.

Oferecemos também, de imediato, as pistas aéreas de nosso país para os aviões norte-americanos que não tivessem onde aterrissar, dado o caos reinante nas primeiras horas depois daquele golpe.
É conhecida a posição histórica da Revolução Cubana, que se opôs sempre às ações que puseram em perigo a vida de civis.

Partidários decididos da luta armada contra a tirania batistiana, éramos, por outro lado, opostos por princípios a todo ato terrorista que conduzisse à morte de pessoas inocentes. Tal conduta, mantida ao longo de mais de meio século, nos dá o direito de expressar um ponto de vista sobre o delicado tema.

No ato público de massas efetuado na Cidade do Esporte expressei, naquele dia, a convicção de que o terrorismo internacional jamais se resolveria mediante a violência e a guerra.
Osama Bin Laden foi, certamente, durante anos, amigo dos Estados Unidos, que o treinou militarmente, e adversário da URSS e do socialismo, mas qualquer que fossem os atos atribuídos a ele, o assassinato de um ser humano desarmado e acompanhado de familiares constitui um fato nojento. Aparentemente, foi isso que fez o governo da nação mais poderosa de todos os tempos.
O  discurso elaborado com esmero por Obama para anunciar a morte de Bin Laden afirma: "…sabemos que as piores imagens são aquelas que foram invisíveis para o mundo. O lugar vazio na mesa. As crianças que se viram forçadas a crescer sem sua mãe ou seu pai. Os pais que nunca voltarão a sentir o abraço de um filho. Cerca de 3 mil cidadãos se foram para longe de nós, deixando um enorme buraco em nossos corações".
Esse parágrafo encerra uma dramática verdade, mas não pode impedir que as pessoas honestas recordem as guerras injustas desencadeadas pelos Estados Unidos no Iraque e Afeganistão, as centenas de milhares de crianças que se viram forçadas a crescer sem sua mãe ou seu pai e os pais que nunca voltariam a sentir o abraço de um filho.
Milhões de cidadãos se foram para longe de seus povos no Iraque, Afeganistão, Vietnã, Laos, Cambodja, Cuba e outros muitos países do mundo.
Da mente de centenas de milhões de pessoas não se apagaram tampouco as horríveis imagens de seres humanos que em Guantánamo, território ocupado de Cuba, desfilam silenciosamente submetidos durante meses e inclusive anos a insuportáveis e enlouquecedoras torturas; são pessoas sequestradas e transportadas a prisões secretas, com a cumplicidade hipócrita de sociedades supostamente civilizadas.
Obama não tem como ocultar que Osama foi executado na presença de seus filhos e esposas, agora em poder das autoridades do Paquistão, um país muçulmano de quase 200 milhões de habitantes, cujas leis foram violadas, sua dignidade nacional ofendida, e suas tradições religiosas ultrajadas.
Como impedirá agora que as mulheres e os filhos da pessoa executada sem lei nem julgamento expliquem o ocorrido, e as imagens sejam transmitidas ao mundo?
Em 28 de janeiro de 2002, o jornalista da CBS Dan Rather, difundiu por meio dessa emissora de televisão que em 10 de setembro de 2001, um dia antes dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, Osama Bin Laden foi submetido a uma hemodiálise do rim em um hospital militar do Paquistão. Não estava em condições de esconder-se nem de proteger-se em cavernas profundas.
Assassiná-lo e enviá-lo às profundezas do mar demonstra medo e insegurança, convertem-no em um personagem muito mais perigoso.
A própria opinião pública dos Estados Unidos, depois da euforia inicial, terminará criticando os métodos que, longe de proteger os cidadãos, terminam multiplicando os sentimentos de ódio e vingança contra eles.

Fidel Castro Ruz

4 de maio de 2011

20 h 34 •



















Diretor Geral: Lázaro Barredo Medina. Diretor Editorial: Oscar Sánchez Serra.

HOSPEDAGEM: Teledatos-Cubaweb. Havana

Granma Internacional Digital: http://www.granma.cu/







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sexta-feira, 22 de abril de 2011

DECLARAÇÃO DO DIA PRIMEIRO DE MAIO












Declaração de Primeiro de Maio

Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)







Qui, 21 de Abril de 2011





A luta operária, internacional e socialista é mais atual que nunca



O Primeiro de Maio nasceu, já faz mais de 120 anos, como uma homenagem aos chamados Mártires de Chicago, nos Estados Unidos, julgados e condenados à morte por liderar uma luta contra a exploração capitalista. Desde 1889, considerou-se que a melhor forma de expressar essa homenagem seria realizar todo ano, nesta data, um dia internacional de luta pelas reivindicações da classe operária. Naquela época, foi assumido como eixo central a luta para conquistar a jornada de 8 horas de trabalho.



Desde então, a burguesia tentou, primeiro, apagar a data da memória dos trabalhadores e, depois, como não obteve êxito, procurou tirar o seu conteúdo de luta e transformá-la em um inofensivo “dia de festa”. A partir da década de 1990, este objetivo acentuou-se com uma campanha ideológica que anunciava estrondosamente o triunfo do “capitalismo sobre o socialismo” e o fim da “luta de classes”.



No entanto, como poucas vezes nos últimos anos, neste Primeiro de Maio, uma realidade mundial de luta dos trabalhadores e dos povos, em diversas regiões, mostra-nos que a luta de classes está mais presente que nunca, assim como suas perspectivas revolucionárias internacionais.



A revolução árabe



No mundo árabe, assistimos hoje uma das ondas de ascensão revolucionária de massas mais importante de sua história moderna, que o converteu no epicentro da situação mundial. Iniciou-se na Tunísia e teve continuidade no Egito, e não há praticamente nenhum país dessa região que não seja afetado por alguma de suas manifestações. Essa onda já derrubou dois ditadores (Ben Ali na Tunísia e Hosni Mubarak no Egito) e ameaça todas as ditaduras e monarquias reacionárias da região, a maioria delas agente do imperialismo. Chegou inclusive à Síria, onde o regime “dinástico” dos Assad ainda conserva alguma “aparência” de autonomia ante o imperialismo.



Por razões históricas e estruturais, essa onda revolucionária tende, de modo natural, a superar as fronteiras nacionais e a se estender e se unificar em todo o mundo árabe.



Olhando superficialmente, a atual onda da revolução árabe pode parecer só uma “luta pela democracia”. É verdade que o primeiro objetivo das massas é derrubar os odiados ditadores e seus regimes e obter plenas liberdades democráticas. Mas o seu conteúdo profundo é muito mais amplo, porque inclui resolver as gravíssimas condições dos trabalhadores e do povo e a necessidade de acabar com o saque imperialista e as oligarquias burguesas nacionais que geram essas condições de vida. E, como um elemento central, a necessidade de arrancar do coração do mundo árabe o punhal fincado que representam Israel e a tragédia do povo palestino.



As burguesias árabes “nacionalistas laicas” já mostraram que são incapazes de conseguir algum desses objetivos e que, cedo ou tarde, acabam se transformando em agentes do imperialismo contra a luta dos trabalhadores e do povo. As organizações islâmicas começam a mostrar isso, como se vê, por exemplo, nas posições políticas que a Irmandade Muçulmana teve ao longo de todo o processo egípcio (primeiro negociação com Mubarak e, agora, apoio ao governo do exército).



Afirmamos que, no mundo árabe, desenvolve-se uma “revolução socialista inconsciente” que, na luta pela democracia e pela libertação nacional, deve avançar necessariamente até a luta pelo socialismo. É socialista pelos inimigos que enfrenta (o imperialismo, Israel e as burguesias nacionais); porque as tarefas que deve implementar só podem ser realmente resolvidas derrotando o imperialismo e o capitalismo; e, finalmente, porque os seus protagonistas são os trabalhadores e o povo, os únicos que podem levar essa luta até o final.



Nesse sentido, o processo iniciado em 25 de janeiro de 2011 teve como antecedentes várias greves e lutas dos operários têxteis da cidade de Mahallah, no delta do Nilo. Inclusive, uma das organizações juvenis mais ativa nas mobilizações que derrubaram Mubarak se chamava “6 de Abril” porque se formou para aderir a uma dessas jornadas de luta.



Finalmente, a gota d’água na luta contra Mubarak e que acelerou sua queda foi a onda de greves dos últimos dias antes de 12 de fevereiro de 2011: operários têxteis de Mahallah, trabalhadores do Canal de Suez, trabalhadores da saúde, da educação, dos bancos e do transporte do Cairo etc.



Então, a grande tarefa atual é que esse “conteúdo operário e socialista” penetre na consciência das massas egípcias e árabes, e que essa consciência se expresse na continuidade de sua mobilização (superando as armadilhas e as ilusões da democracia burguesa) e em avanços na sua organização independente de qualquer variante burguesa. Especialmente, na construção de partidos operários revolucionários capazes de liderar a revolução até o final.



A luta na Europa



Cruzando o Mediterrâneo, os trabalhadores e a juventude europeias continuam a luta, iniciada em 2010, contra os duríssimos planos de ajuste que os governos (sejam da direita clássica ou de partidos social-democratas) e as patronais aplicam para fazer recair sobre os seus ombros o custo da crise econômica internacional e dos imensos pacotes de ajuda que deram aos bancos e ao parasitário sistema financeiro.



Em 2011, já houve uma nova greve geral na Grécia. No mês passado, uma imensa mobilização em Portugal, impulsionada pela juventude trabalhadora e estudantil, a chamada “geração à rasca” (geração perdida), foi o ponto mais alto da resposta social, que obrigou o governo do primeiro-ministro Sócrates a renunciar. Mais recentemente, centenas de milhares de pessoas se manifestaram em Londres contra os cortes no orçamento aplicados pelo governo conservador-liberal.



Aqui também a luta tende a tomar rapidamente um caráter internacional. Acordos como a União Europeia e a “zona euro” (os 16 países que adotaram o euro como moeda) mostram claramente o seu caráter de organizações imperialistas contra os trabalhadores, como fica evidente nos ferozes ajustes que devem ser feitos por governos como os de Portugal ou da Grécia para receber uma “ajuda” que só tem como objetivo salvar os bancos e aumentar ao máximo a exploração dos trabalhadores, liquidando antigas conquistas trabalhistas e precarizando benefícios, como a saúde e a educação públicas.



Em todos os casos, esses governos contam com a cumplicidade das burocracias sindicais que, inclusive quando se veem obrigadas a impulsionar lutas, atuam para dividir e frear os processos. De qualquer maneira, sua ação sempre está destinada a salvar esses regimes políticos, a UE e a zona euro. Se não fosse pelo papel dessas burocracias, muitos desses governos já teriam caído ou estariam para cair.



Além disso, devido à ação das burocracias, os trabalhadores de cada país tiveram que sair à luta contra as mesmas medidas impostas pelo imperialismo, mas o fizeram separadamente, cada um por sua conta. Embora os inimigos fossem os mesmos e os planos de fome impostos a partir do mesmo padrão da União Europeia, a política das burocracias sindicais foi isolar uma luta das outras. Por isso, na Europa, é necessária a construção de uma alternativa classista perante os governos e que unifique a luta contra a burocracia em cada país e a luta da classe operária europeia em seu conjunto.



Em todo o mundo



No mesmo caminho de seus pares europeus, o governo de Obama, nos EUA, acaba de apresentar um orçamento que contém o “maior corte da história do país”. Ainda que a situação de luta esteja bem mais atrasada que na Europa, a recente mobilização no estado de Wisconsin e as do ano passado na Califórnia contra os cortes no orçamento estadual para a saúde e a educação públicas, que unificaram os trabalhadores destes setores com os estudantes e usuários, podem estar assinalando o fim da “tranquilidade”.



Nos primeiros anos do século XXI, vários países latino-americanos viveram processos revolucionários (Equador, Argentina, Venezuela, Bolívia). Auxiliados por uma situação econômica relativamente boa, os governos de frente popular ou populistas (como os de Chávez, Evo Morales, Correa e Lula) conseguiram controlar e barrar este processo. Mas essa “tranquilidade” também pode começar a ter problemas.



À superexploração soma-se agora a inflação, que deteriora o poder de compra dos salários. O governo de Evo teve que retroceder no “gasolinazo” (brutal aumento do preço dos combustíveis) diante da reação operária e popular. No “estável” Brasil da era Lula, agora com o governo de Dilma Rousseff, mais de cem mil trabalhadores da construção civil de obras públicas (um dos setores mais explorados da classe operária brasileira) fizeram uma duríssima greve contra as empresas construtoras (muito ligadas ao governo) com métodos muito radicais de incendiar os pavilhões dos canteiros de obras.



Todas essas lutas colocam a necessidade da unidade internacional dos trabalhadores. Uma unidade que esteve na origem do movimento operário e que foi a marca registrada dos primeiros esforços de organização dos trabalhadores. Lutas semelhantes explodem em diferentes partes do planeta e demonstram que é necessário retomar essa tradição que expressa o Primeiro de Maio e está presente hoje. A solidariedade internacional entre os trabalhadores é uma ferramenta para a própria luta, porque pode ser fundamental para derrotar a burguesia e arrancar conquistas. Por exemplo, na Europa, a unidade entre os trabalhadores do continente é uma necessidade para derrotar a União Europeia imperialista e os seus planos. E a vitória de uns ajuda o avanço dos trabalhadores de outros países em luta. Além disso, permite retomar e fazer avançar a consciência internacionalista da classe operária, que foi característica do surgimento do movimento operário.



A unidade nas lutas coloca outra questão profunda: no sistema capitalista, nenhuma conquista obtida com a luta é permanente. O sistema capitalista, em sua decadência e em busca do lucro, ataca para retirar e fazer retroceder as conquistas que concedeu em outros momentos. Assim aconteceu, por exemplo, com a jornada de 8 horas, a estabilidade de emprego, a idade de aposentadoria etc. Por isso, o capitalismo não pode ser mudado de forma gradual por meio de reformas. Essas reformas progressivas quase não existem hoje, mas se a burguesia as concede como consequência das lutas, amanhã mesmo vai atacar para eliminá-las. A conclusão é que é necessário mudar o sistema, superá-lo pela ação revolucionária, isto é, conquistar a emancipação dos trabalhadores.



“A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”



Em um dos seus textos mais importantes dirigidos à classe operária, o Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels terminam com uma consigna que é, ao mesmo tempo, toda uma definição política: “A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”.



Com ela, queriam expressar que somente a classe operária seria capaz de levar até o final a luta contra o capitalismo e pela sua destruição, imprescindível para conduzir até o fim a luta pela emancipação da exploração e da opressão. E que, nessa luta, deveria ser autodeterminada, totalmente independente de qualquer variante política da burguesia, que sempre procuraria levar a classe operária a “reboque” de suas posições. O Primeiro de Maio como jornada de luta operária e socialista está profundamente imbuído desse caráter.



Nos últimos anos, essa proposta foi duramente questionada pela grande maioria da esquerda mundial, que abandonou a luta pela revolução socialista e pela emancipação da classe operária que, com diferentes sistemas teóricos e políticos, defendia em décadas anteriores. Um setor limita-se a postular a “humanização” do capitalismo e, para isso, a necessidade de se integrar plenamente nas instituições burguesas e nos seus governos. Outros afirmam que a saída é a proposta pelos setores burgueses populistas de esquerda, como Chávez na Venezuela, que saiu em defesa das sanguinárias ditaduras de Kadafi na Líbia e Assad na Síria.



A proposta da LIT-QI



De parte da LIT-QI, reivindicamos a fundo a consigna do Manifesto Comunista e afirmamos que ela está mais atual que nunca. Dizemos isso em um duplo sentido.



Em primeiro lugar, a classe operária está cada vez mais presente nas lutas, como mostram a resistência contra os ajustes na Europa e nos EUA, os processos revolucionários no mundo árabe, ou as greves contra a inflação e os “tarifazos” na América Latina. E, com sua luta, pode encabeçar uma aliança com os outros setores oprimidos e explorados, como os camponeses pobres, as massas urbanas não operárias e as nacionalidades oprimidas.



Em segundo lugar, é necessário retomar o internacionalismo operário. Em terceiro lugar, para acabar com a exploração, a fome, a miséria e o risco de destruição a que o capitalismo imperialista submete o mundo, é necessário uma revolução liderada pela classe operária, primeiro passo para a construção do socialismo. Não há como “humanizar” ou “reformar” o capitalismo.



A “mãe de todas as tarefas”



Os trabalhadores e as massas continuam mostrando um grande heroísmo em suas lutas. Basta ver, por exemplo, a combatividade que hoje vemos no mundo árabe. Mas o capitalismo imperialista e as burguesias nacionais associadas não vão se render “mansa e educadamente” perante essas lutas. Pelo contrário, como um leão que lambe suas feridas, respondem com ferocidade e recuperam o terreno perdido.



A revolução árabe e as lutas na Europa e no resto do mundo nos mostram a necessidade urgente da construção de uma direção revolucionária internacional, capaz de impulsionar e unificar essas lutas e levá-las até o seu triunfo definitivo (a derrota completa do imperialismo).



Esta é a “mãe de todas as tarefas”, que propomos a todos os lutadores operários e populares do mundo. Para nós, ela se concretiza na reconstrução da IV Internacional e suas seções, os partidos revolucionários nacionais. É nessa tarefa que a LIT-QI concentra todos os seus esforços.



Afirmamos, ao mesmo tempo, que a construção de uma direção revolucionária mundial não pode ser levada a cabo sem combater permanentemente todas as direções frentepopulistas, populistas, fundamentalistas, reformistas, “socialistas burocráticas”, que tentam desviar a luta dos trabalhadores e das massas para becos sem saída. E também sem combater os que, com qualquer argumento, capitulam a estas direções.



Baseados nesta experiência, temos um claro critério para nos posicionar em todas as lutas: estamos com os explorados e oprimidos contra os exploradores e os opressores. Por isso, estamos com os trabalhadores, a juventude e os povos árabes contra os seus ditadores e burguesias; estamos com o povo líbio contra Kadafi e contra a intervenção imperialista; estamos com a resistência afegã pela derrota dos invasores imperialistas; com o povo palestino contra Israel; com o povo haitiano para que expulse os “capacetes azuis” da ONU e os marines ianques; apoiamos os trabalhadores europeus contra os seus governos e patrões; os imigrantes em sua luta para conquistar plenos direitos políticos, trabalhistas e sindicais; as mulheres, os jovens e os que têm orientações sexuais diferentes, contra a opressão, a discriminação e a perseguição que sofrem no capitalismo.



Viva a revolução árabe!



Viva a luta da juventude e dos trabalhadores europeus!



Viva o internacionalismo operário! Viva a luta dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo!



Pela derrota do capitalismo imperialista!



Viva a Revolução Socialista Internacional!









Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI)









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Cristiano da Conlutas

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LIT/QI – Liga Internacionaldos Trabalhadores



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