terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PARA ONDE VAI A EUROPA?


A resposta à crise proposta pelos mercados (desregulamentação do mercado de trabalho, deflação salarial, desemprego estrutural, cortes orçamentários e privatizações) é cada vez mais voraz. A União Europeia necessita de outra estratégia. Estamos assistindo a uma verdadeira guerra dos mercados contra os Estados. O que estamos vendo é uma contrarrevolução social “thatchero-reaganiana”. A questão é saber se as sociedades europeias vão aceitar isso. A partir de agora, o problema para a Europa já não é econômico, mas sim político.Sami Nair
Depois da Grécia, a Irlanda. E depois, provavelmente, Portugal. Na sequência, não sabemos. O que é certo é que vários países estão ameaçados pelos mercados. A Espanha já está sob a alça da mira. Mas com o devido respeito pelos demais, o caso da Espanha é diferente. Trata-se da quarta economia da Europa (12% do PIB europeu) e é um peso pesado da política europeia. A dívida espanhola é três vezes superior à grega, seu déficit está, há dois anos, em torno de 10% do PIB, e o desemprego, que atinge todas as faixas de idade, está acima dos 20%. Se a Espanha recorrer ao fundo de resgate europeu, isso abriria também, de maneira inevitável, o caminho para ações especulativas contra Itália e França, o que significaria um giro decisivo para a Europa.
O paradoxo é que a estratégia europeia de saída da crise mundial (desregulamentação do mercado de trabalho, deflação salarial, desemprego estrutural, cortes orçamentários e privatizações) mostra os mercados cada vez mais vorazes. Daqui em diante, eles querem tudo. Essa estratégia, fundamentalmente recessiva, provoca um aumento legítimo das reivindicações sociais e políticas e dá lugar a perguntas que começam a ser formuladas espontaneamente pelas opiniões públicas. Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, expressa assim esse estado de ânimo: “Para Atenas, Madri ou Lisboa, se colocará seriamente a questão de saber se interessa continuar o plano de austeridade imposto pelo FMI e por Bruxelas, ou se, ao contrário, é melhor a voltar a serem donos de suas políticas monetárias” (Le Monde, 23-24 de maio de 2010).
Ainda não chegamos a esse ponto, mas se não mudarmos as regras do jogo, a divisão da zona euro se tornará uma hipótese séria. Pois está claro que não poderemos resolver esta crise somente com medidas restritivas que atingem as populações mais expostas (classes médias e populares), e menos ainda com medidas técnicas vinculantes como as apoiadas por Alemanha e França para ativar o fundo de resgate. O presidente do Banco Central alemão, Axel Weber, deu a entender, durante uma visita recente a Paris, que os 750 bilhões de euros deveriam ser de todo modo aumentados se a Espanha recorresse ao fundo. Isso não deve ter agradado muito ao ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schäuble, que, em uma entrevista ao Der Spiegel (08/11/2010), informou: durante a fase crítica, prolongação da vida dos créditos; se isso não bastar, os investidores privados deverão aceitar uma depreciação de seus empréstimos em troca de garantias para o restante. Isso é o mesmo que agitar a capa vermelha diante dos investidores privados.
Estes reagiram imediatamente, colocando a Irlanda de joelhos e cercando Portugal antes de assinalar os alvos na Bélgica e na Espanha. Quanto falta para que passem ao ataque? A margem de confiança que concedem aos diferentes países da zona euro já é insustentável: a Alemanha encontra compradores de seus bônus a uma média de 2,7%, enquanto que a Espanha os negocia no melhor dos casos em torno de 5% e Portugal a 6,7%. Os países endividados emprestam, pois, a taxas cada vez mais proibitivas e, se às vezes conseguem ganhar uns pontos, é só porque o Banco Central compra alguns bônus, coisa que não poderá durar muito tempo.
Na verdade, estamos assistindo a uma verdadeira guerra dos mercados contra os Estados. Quando a crise começou, apontei (“A vitória dos mercados financeiros”, El País, 08/05/2010) que os mercados iam submeter à prova a capacidade de resistência dos Estados e dos movimentos sociais, e quem em caso de uma debilidade comprovada dos europeus para definir uma estratégia progressista comum frente à crise, os investidores iam incrementar sua vantagem atacando frontalmente os Estados mais fracos. Objetivos: desregulamentar ainda mais os mercados internos e exigir mais privatizações. É exatamente o que está ocorrendo hoje. O que estamos vendo é uma contrarrevolução social “thatchero-reaganiana”. A questão é saber se as sociedades europeias vão aceitar isso. Neste contexto, o estatuto do euro é um teste definitivo: será, finalmente, posto a serviço da promoção de um modelo social sustentável ou se tornará o vetor da destruição dos restos do Estado de bem estar europeu?
A partir de agora, o problema para a Europa já não é econômico, mas sim político. Se as medidas técnicas adotadas não conseguirem resolver as dificuldades dos países europeus, veremos a divisão da zona do euro anunciada por Stiglitz? E qual será a forma dessa divisão? Uma zona reduzida a seis, sem a Espanha? Uma zona baseada no desacoplamento entre uma moeda única para o casal franco-alemão e alguns outros países, e uma moeda comum para o resto? Um retorno às moedas nacionais? E, neste caso, o que será do mercado único? Ouvimos todos os dias dirigentes políticos afirmarem que estas hipóteses são impensáveis: mas estamos seguros de que controlam os fluxos monetários? Não estão submetidos ao uníssono da Bolsa? Tudo pode ocorrer?
Na verdade, está em jogo o futuro do projeto europeu. As regras de funcionamento do euro previstas pelo Tratado de Lisboa entram cada vez mais em contradição flagrante com as divergências de desenvolvimento dos diversos países da zona. Nenhum governo se atreve, aparentemente, a colocar em dúvida os dogmas que sustentam o Pacto de Estabilidade, ainda que, na prática, ninguém os respeite. Mas, se queremos salvar o euro, é preciso flexibilizar essas regras. E talvez mudá-las. É vital estabelecer, daqui em diante, uma coordenação forte das políticas econômicas europeias, ainda que a Alemanha, tutora do Banco Central, não queira ouvir falar de um “governo econômico”. Aqui está o coração da batalha para a sobrevivência da zona euro e não nas medidas coercitivas previstas pelo acordo adotado em 28 de outubro, em Bruxelas.
Para relançar a Europa, essa coordenação deverá enfrentar pelo menos quatro grandes tarefas; 1) Uma proteção do espaço monetário europeu, regulando efetivamente, como foi previsto na reunião da UE de 18/05/10, os fundos de investimento alternativos e sobretudo os instrumentos ultraespeculativos (hedge funds, private equity, CDS). Isso supõe que se pode pedir explicações ao Reino Unido para que ponha fim à política desestabilizadora da City, principal praça especulativa mundial. 2) Uma mutualização das dívidas públicas europeias com a criação de “bônus europeus” para os países endividados que recorrerem ao fundo de resgate. Para evitar que aumente a desconfiança dos mercados, a Alemanha deve aceitar que a ativação do mecanismo de resgate seja, sob condições precisas, mecânico e não negociável a cada caso, como ocorre agora. 3) A realização de um empréstimo para financiar uma grande política pública europeia de crescimento, de criação de emprego e de pesquisa-inovação, o que supõe uma reforma dos estatutos do Banco Central. 4) Uma harmonização fiscal comum da zona do euro apoiada por um reforço dos fundos de coesão para os países em dificuldades.
Estas medidas teriam um efeito de arrasto prodigioso. Elas fariam os investidores refletir e criariam um impacto psicológico salvador para mobilizar os povos europeus. Na verdade, a escolha é simples: ou bem a Europa sairá desta crise reforçada e capaz de enfrentar a nova geopolítica da economia mundial opondo aos mercados um interesse geral europeu, baseado em estratégias cooperativas entre as nações europeias, ou bem, atolada em seus egoísmos nacionais, terminará ardendo em cinzas moribundas.
Sami Nair é professor convidado da Universidade Pablo de Olavide, Sevilha. Publicado originalmente no jornal El País (16/12/2010)
Tradução: Katarina Peixoto
Fonte: Carta Maior

O EGITO

O Egito e as mentiras ocidentais



Depois da Tunísia, o Egito entra na fila da deposição dos ditadores que mantém governos corruptos e violentos no Oriente Médio e adjacências. No Iêmen do Sul o ditador de três décadas anunciou que não disputará as próximas eleições. No ocidente a grande imprensa poupa Mubarak e exalta a violência dos conflitos. Há muito mais em jogo.Ricardo Alvarez
Após os ataques às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, o governo Bush implantou uma política externa tão violenta quanto estúpida: o mundo agora se dividia entre o povo do bem e o do mal. Desnecessário explicar que o bem se centrava nos EUA e sua visão de mundo, e o mal nos que nela não se encaixavam. Compunham este segundo grupo, de maneira geral, islâmicos e árabes, considerados terroristas por vocação e seres de segunda categoria. Com este discurso, pretendeu-se tornar absolutamente aceitável bombardear casas, matar crianças, destruir cidades em nome da nova política de “combate ao terror”.
Primeiro foi o Afeganistão, com a ocupação pelos EUA ao final de 2001, que recebeu tantas bombas sobre a cabeça quanto aplausos das elites ocidentais. Mesmo que vidas fossem perdidas nada deveria impedir a campanha de “combate ao terror”. O bem começava a se sobrepor sobre o mal, pelos menos na visão dos líderes do G20.
Depois foi a vez do Iraque, ocupado em 2003 a partir das mentiras já desvendadas de que o país acumulava armas químicas e era uma ameaça latente ao povo norte-americano. Outro membro efetivo do clube do mal havia então sido atacado.
Para os de boa memória, relembro que Saddam Hussein recebeu adjetivos nada dignos num processo permanente de desconstrução de imagem, antevendo a sua derrubada e captura, com o objetivo de justificar as atrocidades contra o povo iraquiano e minimizar o desrespeito aos tratados internacionais de soberania das nações. Não nos esqueçamos que o inimigo momentâneo, tinha sido um grande aliado dos EUA e mundo ocidental, nos anos 1980 durante a guerra Irã x Iraque. Não se trata de defender Saddam, mas de mostrar como dois déspotas recebem tratamentos diferenciados a depender de suas relações com o ocidente.
Uma leitura atenta das notícias sobre as manifestações no Egito neste momento, nos leva à impressão de que Hosni Mubarak, o epicentro da crise, não é um Saddam. Pouco se publica sobre as atrocidades de seu governo contra os movimentos de oposição, as torturas, mortes e prisões arbitrárias. Como um líder tão impopular pode permanecer tanto tempo no poder senão lançando mão de estratégias desta ordem?
As mentiras ocidentais escondem que Mubarak é um aliado de primeira linha dos EUA, que recebe mais de bilhão anual de ajuda em troca de sua política de mediação entre Israel e a vizinhança. Além disso, os tanques de guerra das forças armadas do governo Mubarak que aparecem nas imagens, são norte-americanos, expressando os acordos militares de fornecimento e compra de armas. Contudo, esta aproximação política não foi suficiente para proteger Mubarak da ira popular. A realidade se impôs.
A crise econômica global, estacionada nos países ricos, rebateu forte nas economias mais frágeis e dependentes do flanco do sistema, como o Egito. A falta de diversificação de sua produção industrial e excessiva dependência da exportação de matérias primas tornou o país presa fácil da onda recessiva.
Além disso, o turismo, muito dependente da Europa e dos EUA, viu minguar seus fluxos em função deste quadro econômico mundial, atividade esta que representa aproximadamente 11% do PIB e sustenta cerca de três milhões de famílias. Some-se a isto a alta nos preços dos alimentos, o desemprego crescente que afeta as populações mais jovens, a contínua repressão política a falta de liberdade na organização sindical e partidária, dentre outros fatores, como por exemplo, as mobilizações sociais da vizinha Tunísia.
Não interessa aos EUA e à União Européia a deposição de Mubarak, por isto a imprensa internacional tem repetido ‘ad nauseum’ que é preciso “cautela com relação aos próximos passos”, “transição pacífica e ordeira”, dentre outras. Mas quando a massa vai para a rua, com vontade e consciência, nada a detém. Os ventos da Tunísia lufaram as mentes dos egípcios criando uma vontade coletiva de mudança. Quem sabe outros ditadores, freqüentemente acariciados pelos líderes ocidentais, não sofram os efeitos das mudanças que se abatem sobre o norte da África? O Iêmen do Sul também já sentiu o frescor que exala das terras africanas.
Fica no ar a questão da ocupação do poder, caso Mubarak não resista às pressões. Evidentemente os EUA já trabalham com a hipótese de alçar algum moderado para substituí-lo, como o Nobel da Paz El Baradei, mas este carece totalmente de apoio popular, não é sequer uma liderança reconhecida no país e nem tampouco tem ao seu redor um partido político ou segmento social que o sustente, de qualquer forma nada de autonomia e independência. Estas seriam somente garantidas com uma mobilização contínua que complete o serviço de derrubada das velhas estruturas, das quais as grandes potências são signatárias.
Por fim, além da não “saddanização” de Mubarak, a grande imprensa ainda se utiliza de outros artifícios voltados para a diminuição do valor e a importância de um movimento social legítimo, justo e necessário.
Destaca a presença do grupo Irmandade Muçulmana que atua no Egito em oposição ao governo, gerando o receio da ascensão do radicalismo, mas é importante lembrar que o grupo lançou documento inicialmente não apoiando a mobilização. Acabou atropelado por ela.
Noticiam-se com ênfase as mortes que lamentavelmente ocorreram até então, além de tiros e pedras trocados em praça pública, mas pouco se fala de que os ataques fazem parte da ação do governo através de sabotadores e milícias que agem no meio do público, os battagi, cuja única função é semear confusões.
E os saques ao rico patrimônio histórico egípcio, ocorridos com a complacência da guarda pública que fez vistas grossas aos invasores também alinhados ao governo, fato este que intenciona a criação de antipatia mundial aos manifestantes.
Mas até agora o que se vê é a força de um povo que decidiu dar um basta geral a décadas de tirania, tudo regado a muita espontaneidade e agitação organizada pelas redes sociais (twitter e facebook, principalmente). Fundamental, nesta conjuntura política, é não apenas obter sucesso na derrubada do regime, mas também manter acesa a mobilização da sociedade na formação do novo gabinete e atuar diretamente na sua gestão, pois se ele for realmente popular não terá vida fácil diante dos países ricos.
Ricardo Alvarez

Geógrafo, é professor e editor do site Controvérsia

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

MUBARAK

Havana. 3 de Fevereiro, de 2011

A sorte de Mubarak está lançada e nem o apoio dos Estados Unidos poderá salvar seu governo. O Egito tem um povo inteligente, de gloriosa história, que deixou sua marca na civilização humana. "Do alto destas pirâmides, 40 séculos os contemplam", contam que exclamou Bonaparte em um momento de exaltação quando a revolução dos enciclopedistas o levou a esse extraordinário cruzamento de civilizações.
Ao finalizar a Segunda Guerra Mundial, o Egito estava sob a brilhante direção de Abdel Nasser, que junto a Jawaharlal Nehru, herdeiro de Mahatma Gandhi; Kwame Nkrumah e Ahmed Sékou Touré, líderes africanos e Sukarno, presidente da então recém-libertada Indonésia, criaram o Movimento dos Países Não-Alinhados e impulsionaram a luta pela independência das antigas colônias. Os povos do Sudeste Asiático e do Oriente Médio e da África — como Egito, Argélia, Síria, Líbano, Palestina, Saara Ocidental, Congo, Angola, Moçambique e outros — envolvidos na luta contra o colonialismo francês, inglês, belga e português com o respaldo dos Estados Unidos, lutavam pela independência com o apoio da União Soviética e da China.
A esse movimento aderiu Cuba, após o triunfo da nossa Revolução. Em 1956, Grã-Bretanha, França e Israel atacaram de surpresa o Egito, que havia nacionalizado o Canal de Suez. A audaciosa e solidária ação da União Soviética, que inclusive ameaçou com o emprego de seus foguetes estratégicos, paralisou os agressores.
A morte de Abdel Nasser, em 28 de setembro de 1970, significou um golpe irreparável para o Egito. Os Estados Unidos não pararam de conspirar contra o mundo árabe, que concentra as maiores reservas petroleiras do planeta. Não é preciso argumentar muito, basta ler os cabogramas do que inevitavelmente está ocorrendo.
Vejamos as notícias:
28 de janeiro
"(DPA) — Mais de 100 mil egípcios saíram hoje às ruas para protestarem contra o governo do presidente Hosni Mubarak, apesar da proibição às manifestações emitida pelas autoridades (...)."
"Os manifestantes incendiaram repartições do Partido Democrático Nacional (PDN) de Mubarak e postos de vigilância policial, enquanto no centro do Cairo lançaram pedras contra a polícia quando esta tentou dispersá-los com gases lacrimogêneos e balas de borracha."
"O presidente estadunidense Barack Obama se reuniu hoje com uma comissão de especialistas para ficar a par da situação, quando o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, advertiu que os Estados Unidos reavaliariam as multimilionárias ajudas que outorgam ao Egito, conforme a evolução dos acontecimentos."
"As Nações Unidas também emitiram uma forte mensagem em Davos, onde se encontrava nesta sexta-feira o secretário-geral, Ban Ki-moon."
"(Reuters) — O presidente Mubarak ordena o toque de recolher no Egito e a dispersão de tropas do exército respaldadas por veículos blindados no Cairo e noutras cidades. Noticiam confrontos violentos entre manifestantes e a polícia."
"Forças egípcias, respaldadas por veículos blindados, se posicionaram na sexta-feira no Cairo e em outras grandes cidades do país para terminar com os enormes protestos populares que exigem a renúncia do presidente Hosni Mubarak."
"Fontes médicas informaram que, até o momento, 410 pessoas ficaram feridas nos protestos, apesar de a televisão estatal ter noticiado toque de recolher para todas as cidades."
"Os eventos representam um dilema para os Estados Unidos, que expressaram seu desejo de que a democracia se estenda por toda a região. Mubarak, no entanto, é um aliado de Washington há vários anos e destinatário de muita ajuda militar."
"(DPA) — Milhares de jordanos manifestaram-se hoje, depois das preces da sexta-feira em todo o país, pedindo a demissão do primeiro-ministro Samir Rifai, e reformas políticas e econômicas."
"Em meio ao desastre político que abalava o mundo árabe, líderes reunidos na Suíça refletiram sobre as causas que levaram ao fenômeno que, inclusive, qualificaram como suicídio coletivo."
"(EFE) – Vários líderes políticos exigem no Fórum Econômico de Davos uma mudança no modelo de crescimento."
"O atual modelo de crescimento econômico, baseado no consumo e sem levar em conta as consequências ambientais, já não pode ser mantido por mais tempo, pois está em jogo a sobrevivência do planeta, advertiram hoje vários líderes políticos em Davos."
"’O modelo atual é um suicídio coletivo. Necessitamos de uma revolução no pensamento e na ação’, advertiu Ban (Ki-moon). ‘Os recursos naturais são cada vez mais escassos’, acrescentou, num debate acerca de como redefinir um crescimento sustentável no marco do Fórum Econômico Mundial."
"A mudança climática nos mostra que o modelo antigo é mais do que obsoleto", insistiu o responsável pela ONU." "O secretário-geral acrescentou que, além dos recursos básicos para a sobrevivência — como água e alimentos — "está se esgotando outro recurso, que é o tempo, para fazer face à mudança climática."
29 de janeiro
"Washington (AP) – O presidente Barack Obama tentou o impossível diante da crise egípcia: cativar a população furiosa com um regime autoritário de três décadas e, ao mesmo tempo, assegurar ao aliado-chave que os Estados Unidos o respaldem."
"O discurso de quatro minutos do presidente, na noite de sexta-feira, representou uma cautelosa intenção de manter um difícil equilíbrio: Obama somente poderia sair perdendo se elegesse alguém entre os manifestantes que exigem a saída do presidente Hosni Mubarak e o regime que se mantém no poder através da violência."
"Obama (...) não pediu uma mudança de regime. Tampouco disse que o anúncio de Mubarak fora insuficiente. Obama disse as frases mais fortes do dia em Washington, mas não se distanciou do roteiro que usaram sua secretária de Estado, Hillary Clinton, e o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs."
"(NTX) — O jornal The Washington Post sugeriu hoje ao governo de Obama usar sua influência política e econômica para que o presidente Mubarak abandone o poder no Egito."
"’Os Estados Unidos deveriam usar toda sua influência, incluindo os mais de um bilhão de dólares em ajuda que remete a cada ano ao exército egípcio para assegurar o último resultado (a cessão do poder por parte de Mubarak)’, indicou um diário em seu editorial."
"... Obama, em sua mensagem pronunciada na noite da sexta-feira, disse que continuará trabalhando com o presidente Mubarak e lamentou que não tenha mencionado eventuais eleições."
"O diário qualificou de ‘não realistas’ as posições de Obama e do vice-presidente, Joe Biden, que declarou a uma emissora de rádio que não chamaria de ditador o presidente egípcio e que não pensava que deveria renunciar."
"(AFP) —Organizações árabes norte-americanas exortaram o governo do presidente Barack Obama a deixar de apoiar a ditadura de Mubarak no Egito."
"(ANSA) — Os Estados Unidos declararam novamente hoje sua ‘preocupação’ pela violência no Egito e advertiu o governo de Mubarak que não pode agir como se nada tivesse acontecido. A Fox News disse que Obama tem duas opções ruins a respeito do Egito."
"... advertiu o governo do Cairo que não pode voltar a "misturar as cartas" e agir como se nada tivesse acontecido no país."
"A Casa Branca e o Departamento de Estado estão acompanhando de perto a situação no Egito, um dos principais aliados de Washington no mundo e receptor de cerca de US$ 1,5 bilhão anuais em ajudas civis e militares."
"Os meios de informação estadunidenses estão dando uma ampla cobertura aos distúrbios no Egito e vêm assinalando que a situação pode resultar, de qualquer forma que venha a se resolver, em uma dor de cabeça para Washington."
"Se Mubarak caísse, avalia a Fox, os Estados Unidos e seu outro principal aliado no Oriente Médio, Israel, teriam que enfrentar um governo dos Irmãos Mulçumanos no Cairo e um giro antiocidental do país do Norte da África."
"’Estivemos apostando no cavalo errado durante 50 anos’, disse à Fox o ex-agente da CIA, Michael Scheuer. ‘Pensar que o povo egípcio vai esquecer que apoiamos ditadores durante meio século é um sonho’, completou."
"(AFP) — A comunidade internacional multiplicou seus apelos para que o presidente egípcio , Hosni Murabak, empreenda reformas políticas e se ponha fim à repressão às manifestações contra seu governo, que continuaram por quinto dia consecutivo neste sábado."
"Nicolás Sarkozy, Angela Merkel e David Cameron pediram ao presidente, por sua vez, em declaração conjunta, no sábado, que ‘se iniciasse um processo de mudanças frente às reivindicações legítimas" de seu povo e ‘se evitasse a todo custo o uso da violência contra os civis’".
"Também o Irã chamou as autoridades egípcias a atender às reivindicações das ruas."
"O rei Abdalá, da Arábia Saudita, considerou, contudo, que os protestos representam ‘ataques contra a segurança e a estabilidade’ do Egito, levados a cabo por ‘infiltrados’ em nome da ‘liberdade de expressão’."
"O monarca falou por telefone com Mubarak para expressar sua solidariedade, conforme informou a agência saudita SPA."
31 de janeiro
"(EFE) – O primeiro-ministro israelense, Benjamín Netanyahu, expressou hoje seu temor de que a situação no Egito propicie o acesso dos islâmicos ao poder, inquietação que disse compartilhar com dirigentes com os quais falou nos últimos dias."
"(...) O primeiro-ministro recusou-se a falar de informações divulgadas pelos meios locais que apontam que Israel autorizou hoje o Egito a colocar tropas na Península do Sinai pela primeira vez em três décadas, fato que se considera uma violação do acordo de paz de 1979 entre as duas nações."
"Por seu lado e diante das críticas às potências ocidentais, como os Estados Unidos ou a Alemanha que mantiveram estreitos laços com regimes totalitários árabes, a chanceler alemã afirmou: ‘Não abandonamos o Egito’."
"O processo de paz entre israelenses e palestinos se encontra paralisado desde o último mês de setembro, principalmente pela negativa israelense de frear a construção nos assentamentos judeus no território palestino ocupado."
"Jerusalém (EFE) — Israel é a favor da permanência no poder do presidente egípcio, Hosni Mubarak, a quem o chefe de Estado israelense, Simon Peres, respaldou hoje ao entender que "uma oligarquia fanática religiosa não é melhor que a falta de democracia."
"As declarações do chefe de Estado coincidem com a difusão pelos meios locais de pressão de Israel a seus sócios ocidentais para que baixem o tom de suas críticas ao regime de Mubarak, que o povo egípcio e a oposição tratam de derrocar."
"Fontes oficiais não identificadas, citadas pelo jornal Haaretz, indicaram que o Ministério de Assuntos Exteriores israelense enviou no sábado um comunicado a suas embaixadas nos Estados Unidos, Canadá, China, Rússia e vários outros países europeus para pedir aos embaixadores que enfatizassem ante as autoridades locais respectivas a importância que tem para Israel a estabilidade no Egito."
"Os analistas israelenses assinalam que a queda de Mubarak poderia pôr em perigo os Acordos de Camp David que o Egito firmou com Israel, em 1978, e a posterior assinatura do tratado de paz bilateral em 1979, sobretudo, se tivesse como consequência a subida ao poder dos islâmicos Irmãos Mulçumanos, que gozam de amplo apoio social."
Israel vê Mubarak como o garantidor da paz em sua fronteira sul, além de um apoio-chave para manter o bloqueio à Faixa de Gaza e isolar o movimento islâmico palestino Hamas."
"Um dos maiores temores de Israel é que as revoltas egípcias, que seguem as da Tunísia, atinjam também a Jordânia, debilitando o regime do rei Abdalá II, cujo país e o Egito são os únicos árabes que reconhecem Israel."
"A recente designação do general Omar Suleiman como vice-presidente egípcio e, portanto, possível sucessor presidencial, foi bem recebida em Israel, que manteve com o general relações próximas de cooperação na área de defesa." Mas, o rumo que seguem os protestos egípcios não permite dar por certa a garantia de continuidade do regime, nem tampouco que Israel possa seguir tendo futuramente no Cairo seu principal aliado regional."
Como se pode observar, o mundo enfrenta simultaneamente, e pela primeira vez, três problemas: as crises climática, alimentar e política. A elas, pode se adicionar outros graves perigos. Os riscos de guerras cada vez mais destrutivas estão muito presentes.
Terão os líderes políticos serenidade e equanimidade suficientes para enfrentá-las? Disso dependerá o destino de nossa espécie.
Fidel Castro Ruz
1º de fevereiro de 2011
19h15