sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

WIKLEAKS DENUNCIA GOLPE EM HONDURAS

I n f o r m a ç õ e s
Havana. 30 de Novembro, de 2010



Revelações de WikiLeaks põem a nu intervenção dos EUA no golpe de Estado em Honduras

Jean-Guy Allard

O golpe de Estado em Honduras em 2009 foi "ilegal e inconstitucional", reconheceu o embaixador norte-americano em Tegucigalpa, o cubano-americano Hugo Llorens, ex-colaborador de Otto Reich, cujo papel nos acontecimentos ainda não foi esclarecido. Uma análise de Llorens aparece entre os documentos estadunidenses revelados por WikiLeaks, um site na internet que se dedica a revelar informação secreta.


Hugo Llorens, embaixador dos EUA em Honduras, sabia que o golpe de Estado contra o presidente Manuel Zelaya era ilegal e inconstitucional.

O documento, assinado por Llorens e enviado ao Departamento de Estado, também reconhece que a carta de "renúncia" de Zelaya foi "fabricada", sem dar detalhes das evidências de que dispõe. O embaixador norte-americano confirmou que "nenhum dos argumentos mencionados pelos golpistas para justificar o sequestro e expulsão do presidente constitucional Manuel Zelaya têm validez sob a constituição hondurenha, enquanto alguns são evidentemente falsos e outros "simples suposições".

Indica como os recontos do sequestro de Zelaya realizados pelos militares referem que jamais lhe foi apresentada legalmente uma ordem judicial, "que os soldados abriram a tiros as fechaduras e sequestraram o presidente".

Llorens não menciona a cumplicidade das forças militares norte-americanas presentes em Honduras na operação realizada pelo exército salvadorenho para tirar do país, via aérea, o chefe de Estado. A advogada e pesquisadora estadunidense, Eva Colinger, demonstrou nas semanas que seguiram ao golpe que a base militar Soto Cano, que os Estados Unidos mantém em território hondurenho, teve um papel fundamental no derrubamento do presidente Manuel Zelaya.

O documento é um das centenas de milhares de despachos secretos do Departamento de Estado ao jornal espanhol El País, The New York Times, The Guardian na Grã-Bretanha, ao francês Le Monde e à revista alemã Der Spiegel, publicações que não são conhecidas por serem críticas do governo norte-americano.

Num parágrafo que parece tragicômico, Llorens assinala que "segundo a lógica do argumento 239", evocado pelos golpistas, "Micheletti deveria ser forçado a renunciar já que como presidente do Congresso considerou uma legislação para ter uma quarta urna "Quarta Urna" nas eleições de novembro de 2009 para solicitar a aprovação dos votantes sobre uma assembleia constituinte para reescrever a Constituição".

"Qualquer membro do Congresso que debateu a proposta também deveria ser separado de ofício, e o candidato presidencial do Partido Nacional, Pepe Lobo, que fez sua a ideia, deve ser inabilitado para exercer cargos públicos por 10 anos", acrescenta.

LLORENS, REICH, ROS-LEHTINEN E OUTROS

No seu relatório, Llorens procurou refúgio com os especialistas legais hondurenhos que a embaixada consultou, com o fim de entender os argumentos esgrimidos pelos partidários do golpe e seus opositores.

O certo é que outros documentos, não "confidenciais" como este, mas sim "top secret", foram intercambiados entre Washington e sua embaixada em Honduras durante os eventos de 2009.

Sem dúvida, as relações muito estreitas de Hugo Llorens com os lobos da política exterior estadunidense, explicam muito melhor que seu relatório "confidencial" o giro pro-golpista que tomou a diplomacia de Obama e Hillary Clinton.

A congressita de extrema direita, cubano-americana, Ileana Ros-Lehtinen, que representa o Partido Republicano em matéria de política estrangeira, qualificou de "irresponsável" as revelações do site WikiLeaks de dezenas de documentos sensíveis do Departamento de Estado.

A congressista de Miami tem motivos para preocupar-se: ela foi uma das primeiras que apoiou o ditador Roberto Micheletti pouco depois do golpe de Estado que provocou a saída do presidente constitucional Manuel Zelaya.

"Apóio Roberto Micheletti, porque ele é o presidente deste país", disse a porta-voz da extrema direita norte-americana no Congresso, em uma coletiva de imprensa, junto a Micheletti, na Casa de Governo hondurenha ocupada pela ditadura.

Llorens sabia do golpe de Estado de antemão. Isto foi revelado pelo ex-ministro da administração de Zelaya, Roland Valenzuela, dias antes de sua morte, em uma entrevista transmitida por uma rádio local da cidade de San Pedro Sula.

Valenzuela relata com detalhes como o dia 10 de junho de 2009, o presidente do Congresso Nacional nesse então, Roberto Micheletti, que virou ditador em 28 desse mesmo mês, enviou o borrador do decreto que destituiria Manuel Zelaya.

Explica como uma empreiteira da Usaid, Jacqueline Floglia Sandoval, foi selecionada como "a pessoa encarregada de coordenar e executar o golpe de Estado".

Dias depois destas declarações, Valenzuela foi assassinado num lugar público pelo "empresário" Carlos Yacamán, que foi preso, quarta-feira, 8 de setembro, em Miami — não pelo FBI mas sim pelo serviço de imigração — onde encontrara refúgio. Apesar da solicitação ofical da procuradoria de San Pedro Sula, Yacamán continua sob proteção das autoridades estadunidenses.

O embaixador Hugo Llorens, que depois de seu relatório admitiu ter participado de reuniões onde se discutiram os planos do golpe antes do sequestro de Zelaya, é um cubano-americano "especialista do terrorismo". Era diretor de Assuntos Andinos do Conselho Nacional de Segurança em Washington quando do golpe de Estado contra o presidente Hugo Chávez.

Llorens se encontrava então sob autoridade direta do subsecretário de Estado para Asuntos Hemisféricos Otto Reich e do muito controvertido Elliot Abrams.

Otto Reich é uma das personagens mais influintes da fauna mafiosa de Miami e em junho de 2009 encarregou-se pessoalmente de proteger o gangue de Micheletti, com a congressista Ileana Ros-Lehtinen.

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