terça-feira, 6 de julho de 2010

VOTO EM LISTA

Élio Gaspari em artigo na Folha de São Paulo, edição de 30 de junho, classifica a defesa de Dilma Rousseff, em defesa do voto em lista e financiamento público de campanha, como “xaveco”. As pessoas não poderão votar em candidatos nominalmente como é hoje. Certamente, o grande jornalista não fez uma reflexão profunda, sobre o nosso atual sistema. Ignora o lúcido articulista que o voto em lista já existe e de forma abominável. Os atuais partidos políticos, com raríssimas exceções, já formalizam a lista de seus candidatos preferidos. Os candidatos que apenas vão dar os votos de legenda. Acontece em todos os níveis. Os partidos dominados por caciques, grandes e pequenas legendas de aluguel, recebem dinheiro público, promovem apenas os seus “chefetes” e caciques e escolhem os candidatos de acordo com seus mesquinhos interesses pessoais e eleitorais. Isto funciona em todas as eleições. Escolhem-se, não candidatos sérios, mas “cabos eleitorais”, candidatos em todas as eleições, que aproveitam o momento eleitoral para “arrumar algum dinheirinho” e votos para a legenda e consequentemente para seus nefastos “líderes”. A título de ilustração temos o antigo PL, atual PR comandado em São Paulo por Waldemar da Costa Neto, um dos envolvidos no escândalo do “mensalão” e que aparece em nome de sua “agremiação” quase todos os dias na TV. Onde estão os outros candidatos? São escolhidos de acordo com a conveniência eleitoral dos caciques, donos das legendas. A dobradinha de cada região, que pode dar votos àquele que “compra” voto no Estado inteiro. Antes gastava-se com massificação, propaganda e distribuição de dinheiro aos cabos eleitorais (leia-se dobradinhas artificiais, prefeitos, ex-prefeitos, vereadores e ex-vereadores). Àqueles que fazem política fisiológica e assistencialista durante 24 horas por dia. O cidadão de bem, consciente, correto, apenas vota. Não é atuante. Não sai fazendo campanha porque está trabalhando em sua profissão e lutando para sobreviver. Aquele que angaria voto é o sujeito profissional, fisiológico, alugado durante o ano inteiro. Estão em empregos públicos, geralmente cargos em comissão ou recebem “por fora”. Incluem-se aí, líderes de bairros, associações, sindicatos, algumas denominações religiosas e outras categorias que se transformam em “cabos eleitorais” de luxo, elegendo os “caciques” de sempre, que formam as maiorias, cooptadas pelo Executivo sempre, em troca de cargos, caixas de campanha, além da vaidade e sedução do “Poder” . Ignoram que representam milhões de miseráveis, excluídos, abaixo da linha de pobreza. São políticos profissionais, entranhados em seus castelos, ignorando a grande missão, que é a representação popular. E o País, desde a sua colonização sofre com esta política de apadrinhamentos, populismo, demagogia, burocracia, contando com a passividade de uma população, que por enquanto, vai aceitando tudo, enganada e iludida por uma falsa sensação de desenvolvimento e ao som do carnaval , das vuvuzelas, dos breganejos, do Faustão. O senhor cidadão, como diria Bretch, ainda se orgulha da própria omissão e diz com peito estufado, que detesta política. O voto em lista já existe, pela fragilidade dos partidos políticos, ausência de idéias e programas autênticos. No papel são todos ótimos iguais. Mas todos dependem de seus líderes e de dinheiro de empreiteiras, usineiros e banqueiros para sobreviver, passando ao País, a falsa idéia de que convivemos com uma democracia representativa. Vivemos sim, a verdadeira farsa democrática.

Atonio Calixto, advogado e professor universitário.(antoniocalixto@aasp.org.br

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