terça-feira, 17 de agosto de 2010

UMA BOA BRISA

Era um tempo ardente de paixão ardente. Estagiário de um Escritório de Advocacia, não tive dúvida. Fui ao seu encontro. Logo ali, no Rio de Janeiro. Apenas para vê-la. Lembro-me da aterrissagem no aeroporto “Santos Dumont”, no Rio. Da janela do avião procurei seu rosto na multidão. Divisei você com um lenço branco no cabelo, uma imagem que marcou os meus vôos para qualquer lugar que fosse. Sempre procuro na multidão aquela garota imatura como eu, a espera de alguém que não oferecia presente e menos ainda futuro. Apenas ardência genuína e verdadeira de viver um momento real. Como foi bom a busca daquele encontro, o primeiro Hotelzinho, que não sei onde fica. Não tenho memória para identificar lugares. Até hoje me perco na minha própria cidade. A minha máquina não conseguiu registrar a sublimidade daquele encontro. Encontramos um amigo na Zona Norte, de nome Jerônimo. Fiquei tão bravo com sua prima, que disse que era velho, e que teria 38 anos, de nome Janete, que passei a “odiar” por toda vida, pela observação infeliz. Mal tinha chegado nos 28 anos e o ano era 1.973. Apesar de quase trinta o meu comportamento era de adolescente medroso, que mal sabia disfarçar o seu medo de tudo. Inseguro, caipira, acredito que tenha sido minha primeira visita a Cidade Maravilhosa. Até naquele mundo estranho, ela e eu, continuava o menino assustado de cidade pequena, que ainda não havia despertado para vida. Era sozinho, independente, porque tanto drama, para o encontro mais importante de minha vida. Nem o encontro com Fidel em Cuba ou no apartamento do Brizola marcou tanto a minha vida. Naquele hotelzinho, um pouco desconfortável para os padrões de hoje, onde entramos carregados de temor, sem razão, talvez tenha sido o melhor momento inconsciente de minha vida. Jamais consegui esquecer aquela fita nos cabelos, da janelinha do avião, no aeroporto, em meio a multidão. Infelizes , àqueles que racionalizam a vida e os momentos de emoção, e não experimentam mesmo sem saber, o sabor da palavra felicidade. Redescubro você, após suas longas e injustificáveis fugas e desaparecimentos. E com razão, porque vai vivendo sua vida, crescendo, distribuindo aquela solidariedade discreta, por onde passa. Não esqueci o momento. Guardei para sempre tudo que vivemos. As fugas, os medos, o parque do Morro, a rua Clélia, o único carnaval de minha vida, onde fui colocado para dentro do clube por um político. E o Gordini, lembra-se. Nada pode destruir uma história verdadeira e o tempo vivido. Integra um pouco do que somos e nos lembra que dos verdadeiros valores válidos do mundo, a ternura é a que realmente existe, diria Saint-Exupèry.


Antoniocalixto@aasp.org.br – 17.08.10

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