sexta-feira, 12 de março de 2010

A CHAVE




É repartição pública, onde não se exige identificação para entrar. É gente demais, entrando e saindo. Não raro, alguém de fora necessita fazer alguma necessidade, quando vem dor ou vontade, sem aviso prévio. Alguns por serem mais elevados do que os mortais comuns não fazem essas coisas. Depois de discussões e acalolarados debates, com a pressão organizada das companheiras de trabalho, que não se conformovam com a má educação do povo e a sujeira deixada no local, determinou-se colocar um paradeiro nos abusos, perpetrados esses seres, que além de sentirem necessidades fora de casa, deixam a privada imunda e sem condições de uso . O pior, não havia sabão ou detergente que chegasse para colocar em ordem algo que deveria ser usado com moderação, critério e apenas pelos servidores da casa. É a opinião Rassiniana. Predominante, no momento. Acabou prevalecendo esta posição contra a vontade da Mãe, que não se conformvava com o fechamento de um banheiro que deveria ser de uso público. “A repartição pública e pertencia ao povo, que pagava seus impostos e o salário de todos que trabalhavam na organização” falava com seus botões. Foi voto vencido. Prevaleceu a vontade das responsáveis pela limpeza e ala mais conservadora. O banheiro deveria ser trancado e seu uso restrito. Público jamais. A cada dor de barriga uma enorme correria. Onde encontrar a chave? A descoberta da chave a cada dia se transformava num mistério maior. Onde está a chave ? A pergunta mais comum que se fazia a cada gesto de quase desespero nos corredores. A mãe inconformada ficava. Com tantos problemas que cercavam a repartição, agora mais um. O banheiro trancado. “E os meus filhos desprotegidos pela sorte, sem eira nem beira, vítimas de si próprias e de um sistema que só protege os mais favorecidos” meditava. Várias confusões foram criadas. Pessoas de fora pediam a chave. A chave o problema. A chave o alívio. Até que um dia um guarda prestando serviço para outra repartição pediu para usar o banheiro. A mãe procurou a chave. Não estava nos lugares, onde poderia ser vista. Quando a chave foi encontrada e a porta foi aberta a chefe da Higiene protestou veementemente contra tanta ousadia e irresponsabilidade. Usar o banheiro prestes a ser limpo. “E que necessidade aquela fora do comum, logo aquela hora da manhã”. O momento não era próprio. Dar chave ao intruso, a um estranho, não é possível. Só pode ser idéia da mãe. A mãe tem o testemunho do ex-atleta, que viu o “rapaz da Febem” entregar a chave que foi recolocada no novo lugar: “O Cantinho do Cantor”. Não tem nada com isso. Quem ousaria responder para a mãe. A mãe que é mãe dos filhos, dos avós, dos amigos e de todos. Com o sumiço da chave desaparece um grande problema. O “sujinho” está novamente aberto ao público. O crime virou solução. Sem chave, melhor. Existe uma felicidade no ar. O ar está mais puro. Todos respiram aliviados os gases emanados daquele local de felicidade. A porta do povo de aberta de novo.

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