sexta-feira, 17 de setembro de 2010

FILHOS DE NINGUÉM

De tudo que é repugnante neste País, nada mais horripilante do que a moda lançada por Zé de Camargo e Luciano: biografia cinematográfica de pessoas vivas, com apelo para dramalhões que enojam e robustecem o culto a personalidade. É perigoso prestar homenagens a pessoas vivas, com nomes de ruas, colégios, avenidas e qualquer outro título honorifico, que não seja em função do cumprimento de uma missão específica relevante., como o prêmio Nobel. A biografia de pessoa viva não está encerrada. No Brasil, apelação a pieguice inaugurada pela dupla sertaneja, e que comoveu os incautos, representa o cúmulo do egocentrismo e da falta de humildade. Qualquer pessoa de bem que se preze, por mais que tenha feito para o País, não aceita este tipo de homenagem. Até ontem, Sarney, Arruda e outros eram pessoas “respeitáveis”. Os museus públicos ou privados é que devem proteger a História. A dupla “breganeja” tem compromisso com o dinheiro e há muito usa o vale tudo para engordar os seus cofres. Grandes ícones não entraram nesta caretice: Pelé, Roberto Carlos, Caetano, Bethânia, Gal, Chico, permitindo a autobiografia cinematográfica. Os grandes autores como Gabriel Garcia Marques, Machado de Assis, Jorge Amado jamais fizeram a própria autobiografia, que em se tratando de literatura seria mais palatável, sem os toques mercantilistas das recentes obras cinematográficas. Agora mais uma. A do Presidente Lula, que por despreparo pessoal e envolvido pelos sabujos que rondam qualquer poder do mundo acaba de virar filme. E o pior, com financiamento de empreiteiras, que fazem obras para o Governo Federal. Usar a Lei Rouanet não foi preciso. Aliás, jamais passaria como obra de arte. O lucro em licitações de obras discutíveis, geralmente com preços superfaturados, como indica as recentes observações do Tribunal de Contas da União, é suficiente para bancar vários filmes e sobrar recursos. A oposição que não existe no Brasil, porque os grandes Partidos estão a serviço das mesmas causas abraçadas pelo Governo, ou seja, a defesa dos grandes grupos econômicos, banqueiros, usineiros e outros representantes do grande capital . O povo contente está contente e feliz. As pesquisas demonstram. O cidadão manda o filho para a escola pública, a esposa para o SUS, compra eletromésticos em 24 meses e o aposentado ainda tem o crédito consignado, fonte irrestrita de lucros de bancos oficiais e não oficiais. Reside-se em casas populares com prestações módicas ou nas favelas. Grande parte da população, abaixo da linha da pobreza, não tem força para reagir ou se organizar. Está subjugada. Forma-se uma geração sem amanhã. Uma tragédia anunciada e não percebida. A propaganda oficial está presente até nos programas esportivos. A imprensa calada. Não existem perspectivas, prospera o financiamento privado de campanha, gerador do caixa dois e dos mensalões. O nome mais forte de oposição é ameaçador. Abraçou sem pudor o neoliberalismo e o grande capital. A opção entre o fascismo robotizado e o populismo demagógico é trágica. Embalado pelo dramalhão que vem aí, “Lula – O Filho do Brasil”, o próximo ato cinematográfico programado para 2.010, não pode ser pior do que o drama real que se vive hoje, um filme de terror de péssima qualidade que será exibido na Praça Brasil, para os filhos de ninguém.

Antonio Calixto, advogado e professor universitário e efetivo da rede pública estadual. Foi Vereador, Vice-Prefeito e deputado Estadual (antoniocalixto@aasp.org.br)

Publicado no jornal “Enfim”, em janeiro de 2.010

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